domingo, abril 26, 2015

«DEMOCRACIA»...


«Se se define a «democracia» como o governo do povo por ele próprio, trata-se de uma verdadeira impossibilidade, uma coisa que, nem pode ter simples existência de facto, e não mais na nossa época do que em qualquer outra; não nos devemos deixar enganar pelas palavras e é contraditório admitir que os mesmos homens possam ser simultaneamente governantes e governados, visto que, para utilizar a linguagem aristotélica, um mesmo ser não pode ser «em acto» e «em potência» ao mesmo tempo e sob a mesma relação. Há uma relação que supõe necessariamente dois termos em presença; não poderia haver governados se não houvesse também governantes, fossem eles ilegítimos e sem outro direito ao poder do que aquele que atribuíram a si mesmo; mas a grande habilidade dos dirigentes, no Mundo Moderno, é a de fazer crer ao povo que ele se governa a si próprio; e o povo deixa-se persuadir de boa vontade, tanto mais quanto é nisso lisonjeado e que, aliás, é incapaz de reflectir bastante para ver o que há aí de impossível. Foi para criar essa ilusão que se inventou o «sufrágio universal»; é a opinião da maioria que é suposto fazer lei; mas do que se não apercebem é que a opinião é qualquer coisa que se pode facilmente dirigir e modificar; pode-se sempre, com o auxílio de sugestões apropriadas, provocar nela correntes dirigidas neste ou naquele sentido determinado; não sabemos já quem falou em «fabricar a opinião» e esta expressão é completamente justa, embora se deva dizer, aliás, que não são sempre os dirigentes visíveis que têm realmente à sua disposição os meios necessários para obter esse resultado. Esta última observação dá-nos certamente a razão pela qual a incompetência dos políticos mais destacados parece ter apenas uma importância muito relativa; mas como não se trata aqui de desmontar as engrenagens do que se poderia chamar a «máquina governativa», limitar-nos-emos a assinalar que essa mesma incompetência oferece a vantagem de manter a ilusão do que acabamos de falar; é somente nestas condições, efectivamente, que os políticos em questão podem aparecer como a emanação da maioria, sendo assim feitos à sua imagem, porque a maioria, seja qual for o assunto acerca do qual for chamada a dar a sua opinião, é sempre constituída pelos incompetentes, cujo número é incomparavelmente maior do que o dos homens que são capazes de se pronunciar com perfeito conhecimento de causa.
«(...)
«(...) devemos ainda insistir numa consequência imediata da ideia «democrática», que é a negação da elite entendida na sua única acepção legítima; não é propriamente «por acaso» que «democracia» se opõe a «aristocracia», esta última palavra designando precisamente, pelo menos quando é tomada no seu sentido etimológico, o poder da elite. Esta, de qualquer modo, por definição não pode ser senão o pequeno número, e o seu poder, ou antes, a sua autoridade, que vem apenas da sua superioridade intelectual, nada tem de comum com a força numérica sobre a qual repousa a «democracia», cujo carácter essencial é o de sacrificar a minoria à maioria, e também por isso mesmo, como dizíamos anteriormente, a qualidade à quantidade, e, portanto, a elite à massa. Assim, o papel director de uma verdadeira elite e a sua própria existência, porque ela desempenha forçosamente este papel desde que exista, são radicalmente incompatíveis com a «democracia», que está inteiramente ligada à concepção «igualitária», quer dizer, à negação de toda a hierarquia: o próprio fundo da ideia «democrática» é o de que qualquer indivíduo vale tanto como outro porque são iguais numericamente, e embora só o possam ser numericamente. Uma autêntica elite, já o dissemos, só pode ser intelectual; é por isso que a «democracia» apenas se pode instaurar onde a pura intelectualidade já não existe, o que é efectivamente o caso do Mundo Moderno. Somente, como a igualdade é impossível de facto, e como não se podem suprimir praticamente todas as diferenças entre os homens, apesar de todos os esforços de nivelamento, chega-se, por um curioso ilogismo, ao ponto de inventar falsas elites, aliás, múltiplas, que pretendem substituir-se à única elite real; e estas falsas elites são baseadas na consideração de quaisquer superioridades, eminentemente relativas e contingentes, e sempre de ordem puramente material. Podemo-nos aperceber facilmente disto notando que a distinção social que mais conta no actual estado de coisas é a que se baseia na fortuna, isto é, sobre uma superioridade toda ela exterior e de ordem exclusivamente quantitativa, a única, em suma, que é conciliável com a «democracia», porque procede do mesmo ponto de vista. Acrescentaremos, de resto, que aqueles mesmos que se colocam actualmente como adversários deste estado de coisas, não fazendo intervir qualquer princípio de ordem superior, são incapazes de remediar eficazmente uma tal desordem, se é que não se arriscam mesmo a agravá-la ainda, indo sempre mais longe no mesmo sentido; a luta é apenas travada entre variedades da «democracia», acentuando mais ou menos a tendência «igualitária», que se encontra, tal como dissemos, entre as variedades do individualismo, o que aliás, vem dar exactamente ao mesmo.»
(In "A CRISE DO MUNDO MODERNO", de René Guénon, Colecção Janus, págs. 108 e 109 e 112 a 114)

segunda-feira, abril 06, 2015

QUIÇÁ DESENCRIPTANDO...


E se a fortuna de que usufruiu (usufrui?) José Sócrates tivesse tido origem em Hugo Chávez - detentor de uma fortuna COLOSSAL -, da Venezuela? (eram grandes amigos, segundo o último, antes de falecer... ou ter sido "falecido"...)...
Será que os "responsáveis" - provincianos, sempre - lusos puseram, sequer, tal hipótese?...
E se assim for, onde está a corrupção de Sócrates?
Sou defensor de que os crimes - eventuais ou verdadeiros - cometidos por um primeiro-ministro no exercício de funções devem ser sempre - independentemente de ainda se encontrar ou não em funções - conhecidos num foro especial - o STJ, na lei vigente portuguesa -, que, a meu ver, deveria ser o Tribunal Constitucional... Nunca, porém, na 1ª instância, dada a "delicadeza" das matérias em causa...
Por que é que Sócrates nunca fez tal afirmação? - a ser verdadeira...
Ora, ora...
Há coisas tão evidentes que não é preciso nem vale a pena explicar...
Quem quer entender, entende logo; quem não quer, explicar é perda de tempo; quem não entende, é melhor ficar como está...
- Victor Rosa de Freitas -
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