«”Tantra
e yoga são coisas distintas. Embora cumpram um objetivo comum, operam em vias
diferentes, ou melhor, em vias opostas. Há que entender o porquê.”»
«O
processo do yoga também constitui uma metodologia; na verdade, o yoga é uma
técnica, e não uma filosofia; à semelhança do Tantra, ela assenta na ação, no
método, na técnica. Também no yoga, o fazer leva ao ser, embora o processo seja
diferente. O yoga – que é o caminho do guerreiro – convida-nos a lutar. A via
do Tantra, em contrapartida, não impõe a necessidade de lutar. Pelo contrário,
somos convidados ao gozo, mas em consciência.
«Enquanto
o yoga é supressão com consciência, o Tantra é gozo com consciência. De acordo
com a visão tântrica, o estado supremo em nada é avesso ao que, à partida, já
somos. Há um processo de crescimento. Podemos, portanto, crescer ao ponto de
alcançarmos o estado supremo. Não há, assim, uma oposição entre o eu e a
realidade. Cada um de nós é parte integrante da realidade; por conseguinte, não
se impõe a dificuldade, o conflito ou a necessidade de uma oposição à natureza.
Para ir mais longe, há que fazer uso da natureza e de tudo o que somos.
«No
yoga, em contrapartida, para ir mais longe o indivíduo necessita de lutar
contra si próprio. O mundo e a libertação (“moksha”) – ou melhor, aquilo que, à
partida, somos e o que podemos vir a ser – são coisas opostas. Por isso,
torna-se necessário suprimir, lutar e destituirmo-nos do que somos para que
consigamos alcançar o que podemos vir a ser. No yoga, ir além constitui uma
morte. O indivíduo tem de morrer para que o seu ser real possa nascer. Aos
olhos do Tantra, o yoga constitui um suicídio. O yoga convida o praticante a
aniquilar o eu natural – neste caso, o corpo, os instintos, os desejos, e todos
os demais atributos do eu. Para o Tantra, em contrapartida, tudo assenta na
autoaceitação, daí a importância fundamental de nos aceitarmos tal como somos. Trata-se
de uma aceitação profunda. O Tantra preconiza que não criemos uma lacuna entre
nós e o real, entre o mundo e o Nirvana. É fundamental, portanto, não criar
lacunas. Para o Tantra, não há hiato, e a morte não constitui um elemento
necessário. O renascimento não requer uma morte, mas sim a transcendência, e o
caminho para a transcendência passa por nos usarmos a nós mesmos.»
(In
“TANTRA – A via da aceitação”, de OSHO, Pergaminho, págs. 71 e 72)
Benavente,
30.10.2025
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Victor Rosa de Freitas -