Que fazer entre a (in)justiça e o sequestro?
O que se pode dizer a um homem
que está na iminência de recolher à prisão?
Os amigos, que sentem as suas
dores, dirão que é preciso ter coragem e enfrentar a provação, que é preciso
aceitar a sua sina e o seu destino e continuar em frente, que o tempo resolve
tudo…
É preciso não esquecer que a
recolha à prisão significa a privação da liberdade de locomoção e de todos os
demais direitos inerentes a tal liberdade.
Os ordenamentos jurídicos da
generalidade dos países, designadamente o português, consideram que a privação
de liberdade de qualquer pessoa por outrem constitui crime, nomeadamente o de
sequestro.
O que bem se compreende.
O que é mais problemático é
quando essa privação da liberdade é determinada pelo próprio Estado, através do
poder judicial, que condena alguém ao encarceramento, punindo-o criminalmente, mas
sem provas do ilícito.
Tal significa, primeiro, que a
pessoa condenada não teve um processo justo, equilibrado, mas em que o balanço
entre as armas da acusação e da defesa foi viciado.
Segundo, que a legitimidade do
Estado, para tal conduta, foi apagada, por violação das regras e normas do
mesmo Estado.
Consequentemente, a pessoa assim
condenada ao cárcere será um preso político.
Preso político não na acepção
ortodoxa da afirmação – como dissidente das políticas do poder político -, mas
antes na de que a sua situação se deve e se equaciona como erro político.
Ou seja, o Estado errou na
definição da sua autonomia deliberativa por errado fundamento nas suas próprias
regras legais punitivas.
Assim, este cidadão será
inocente face às verdadeiras regras do poder estadual.
Por outro lado, recordo que, na
infância de crianças normais – isto é, em que as instâncias de controle,
familiares, de escola e outras funcionam “mesmo”, procurando o seu desenvolvimento
harmonioso -, sempre foram contadas histórias como as dos Irmãos Grimm,
designadamente aquela do Guerreiro que combate o Dragão – o Guerreiro pode ser
igualmente o Cavaleiro das lides medievais ou o “gentleman” mais moderno e o
Dragão como um monstro enorme e que cospe fogo pela boca.
O Guerreiro será este cidadão na
iminência de recolher à prisão e o Dragão que cospe fogo o próprio Estado que
ordenou o “sequestro” daquele.
Por outro lado ainda, como é
linearmente aceite por qualquer místico oriental – designadamente OSHO, o
politicamente incorrecto -, a Verdade encontra-se dentro de cada um e deve ser procurada
através da “Meditação” – isto é, ignorando tudo o que está “fora”, designadamente
o próprio pensamento, devendo, cada um que a faz e enquanto a faz, testemunhar
apenas, sem qualquer julgamento ou juízo de valor, tudo o que não constitui a
sua “essência”, sendo esta encontrada deste modo.
Claro que qualquer pessoa não
deve passar todas as horas e minutos a “meditar”, pois deve enfrentar resolutamente
o “exterior” e usar de todas as suas capacidades, designadamente mentais, para
isso.
Mas os momentos de “meditação” servem
para limpar todo o “lixo” que ocupa e atormenta a mente e, portanto, a
liberdade interior.
Finalmente, quando nos privam da
liberdade “exterior” devemos reforçar a nossa liberdade “interior”, sendo este,
aliás, o caminho da “iluminação”, do “entendimento” – tudo o que nos levará à
criação da nossa UTOPIA.
A um cidadão, dentro deste
enquadramento, na iminência de recolher à prisão, direi:
- que se veja e sinta como um
preso político que, embora não tenha desafiado, em dissidência, as regras de
poder do Estado, está em situação paralela, por violação, pelo mesmo Estado,
das suas próprias regras de afirmação do poder;
- que se veja como um Guerreiro
em combate com o Dragão que cuspiu pela boca o “fogo” da sua condenação, sendo
o Dragão o Estado e todos os que o apoiaram para criar e cuspir tal “fogo”;
- que este combate assente na
força da sua convicção “interior” e não numa rebeldia com ódios e retaliações
agressivas, mas antes na compreensão de como “funciona” realmente o mundo, quer
o do próprio Guerreiro, quer o do Dragão;
- que busque o “entendimento”
pleno, de modo a construir a sua própria UTOPIA;
- que a Paz o acompanhe.
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