sábado, março 16, 2013

Apelo ao Povo português




Os bancos fazem uso do multiplicador monetário (LINK) para adquirirem os seus lucros fabulosos.
Ou seja, e sintetizando, os bancos têm determinada quantia monetária (ou de depósitos) mas podem multiplicá-la, numa base de 100, para 5000.
Isto é, segundo as regras de Basileia (LINK), os bancos têm que ter reservas monetárias de cerca de 2% do capital que emprestam.
Vale isto dizer que os bancos fazem dinheiro do NADA.
Se têm 100 €, podem emprestar 5.000 €.
Se tiverem 1000 €, podem emprestar 50.000 €.
E o dinheiro emprestado, volta a constituir reserva de capital, sobre a qual podem fazer novos empréstimos na mesma proporção de uma base de 100 multiplicada para 5000.
Um exemplo:
Reserva                                              Empréstimo
100 €                                                 5.000 €
4.900 € (5000-5000x2%)                  245.000 €
240.100 € (245000-245000x2%)          12.005.000 €
E assim sucessivamente.
Temos, assim, que para uma reserva de capital de 245.100 €, o banco fez empréstimos no valor de, pelo menos, 12.255.000 €.
Ou seja, teve um lucro líquido (em boa cobrança), de 12.009.900 €.
E isto para uma reserva monetária (dinheiro de depósitos) de apenas 100 €.
Ou seja, todos aqueles valores que o banco emprestou, não passam de, em vez de dinheiro, de dívidas dos beneficiários dos empréstimos, não passam de dinheiro virtual, de dígitos em computar.
Tais beneficiários têm, assim, que pagar, não só o capital de dinheiro fictício, como ainda juros sobre esse mesmo “dinheiro” que não existe e ainda um spread (tal é a gula da banca).
Vemos assim, “grosso modo”, que do dinheiro que circula, apenas cerca de 2% corresponde a dinheiro da produção económica (notas e moedas) e que cerca de 98% é dinheiro virtual, feito do NADA.
Como o dinheiro virtual é muitíssimo superior à produção económica é impossível pagar o capital de todos os empréstimos (ainda acrescidos de juros e spreads) porque os beneficiários de empréstimos só podem pagar com a sua produção económica, aquela que entra para o PIB.
Assim sendo, fica sempre alguém de fora que não consegue pagar os seus empréstimos.
Os bancos financiam tudo o que lhes pode dar lucro.
E tudo lhes pode dar lucro desde que eles tenham o mínimo de garantias dadas pelos devedores com outros bens económicos (correspondentes à produção).
Mas como é impossível, como vimos, todos pagarem todos os empréstimos, esta “bolha”, própria do sistema financeiro, acaba por rebentar.
E isso acontece inevitavelmente, quer os empréstimos sejam para a compra de casa de habitação pela generalidade dos cidadãos, seja para viagens, seja pela especulação financeira com compra de derivados ou com a “venda” do que quer que seja que implique o pedido de empréstimos.
E quando os empréstimos não são pagos, os bancos vão buscar os bens dos devedores dados em garantia, isto é, apropriam-se de valores reais, correspondentes à economia, apropriando-se, assim, da riqueza dos cidadãos a troco de dinheiro feito do NADA.
O mesmo se passa com a dívida soberana dos países.
A banca empresta dinheiro naqueles moldes aos países que vão pagando com certa produção económica e com novos empréstimos, até que chega a um ponto em que a banca (ou os “credores”, como é vulgo dizer-se na linguagem política) exige o pagamento dos empréstimos, isto é, do capital (pelo menos 98% fictício e feito do NADA) e ainda juros.
Claro que os países nunca os conseguem pagar, porque não há produção económica que chegue para pagar empréstimos de dinheiro fictício, acrescido de juros, da mesma maneira que os particulares também não podem, TODOS, pagar os seus empréstimos, como vimos.
E assim, os países como Portugal (que é o que aqui interessa, mas que se aplica a qualquer país com dívida soberana), não tendo hipóteses de sobreviver sem novos empréstimos (já que não podem emitir moeda), ficam nas mãos da chantagem dos “credores”, que impõem que o governo roube o dinheiro do povo para ir pagando a dívida soberana, garantindo assim, que os chantagistas lhe façam novos empréstimos.
E isto não tem fim?
Tem fim, mesmo com o sistema em vigor a funcionar.
Os chantagistas e ladrões dos “credores” (sistema financeiro vigente) procuram equilibrar a diferença entre o capital financeiro e a riqueza económica do país, sugando-a até não restar nada, chamando a isso ajustamento.
Quais são então, os limites do sistema?
Bom…Qualquer especulador precisa de consumidores…Depois de roubarem o povo, sem dó nem piedade, podem:
- “oferecer” um injecção monetária (mais dívida, mas ainda não por cobrar completamente) que, conforme as teorias keynesianas (e defendidas inclusive por Paul Krugman, prémio Nobel da economia, em “Acabem com Esta Crise, JÁ!”, da Editorial Presença) incentiva a economia e leva ao crescimento económico, o que significa mais riqueza, que voltará a ser exigida, mais tarde e quando lhes interessar, pelos chantagistas (vulgo “credores”);
- ou perdoar grande parte da dívida porque lhes não custa nada, já que pelo menos 98% dela é fictícia.
Haverá outra alternativa “fora” do sistema vigente?
Sim, bastando, para tanto e no quadro dos países da EU, que o Banco Central Europeu centralizasse todas as funções da banca, criando também o seu dinheiro fictício e emprestando-o aos países da mesma EU, quer para os financiar, quer para lhes pagar as dívidas a outros credores, como faz a Reserva Federal nos Estados Unidos da América.
Só que esta alternativa não é do agrado da Alemanha que alega temer a inflação, dados os pesadelos que esta lhe causou, como dá a conhecer a sua História.
Mas “isso” esconde outra política e outros interesses da Alemanha porque, em princípio, o dinheiro feito do nada não causa crises de inflação, estendendo-se, antes, ao longo de grandes períodos sem efeitos perversos imediatos, desde que seja controlado o dinheiro real, o correspondente à economia.
Esta é, numa síntese sem todo o rigor epistemológico, porque ignora muitas outras variáveis, uma caricatura correcta do sistema financeiro e de como os países se podem tornar reféns absolutos da chantagem dos credores da dívida soberana (a que se têm que render, se não procurarem alternativas patrióticas, como é o caso de Portugal e o seu estulto governo), como muito simbolicamente se quis dizer com o hastear da bandeira nacional de pernas para o ar no 5 de Outubro p. p., pelo Presidente da República, em sinal de rendição ao inimigo.
Os governantes de Portugal, desde o executivo até ao Presidente da República, devem explicar ao Povo, sem equívocos e com linguagem clara, se é ou não verdade, em termos genéricos, o que se acaba de referir aqui e, se sim, se sabem quais as saídas para isso e, se não é verdade, se sabem qual é a verdadeira situação económica e financeira em que nos encontramos e se sabem quais são as alternativas para terminar com este sufoco criminoso desta austeridade maldita - e sem quaisquer consequências benéficas - em que nos encontramos.
E deixem-se de “tretas” de alarme social, porque em ALARME já o Povo vive há bastante tempo, enquanto o executivo faz orelhas moucas às manifestações populares.
Aqui fica, pois, o meu apelo ao Povo português para que exija saber o que se passa àqueles seus “representantes”.
 
- Victor Rosa de Freitas -

2 Comments:

Blogger victor rosa de freitas said...

Extrai-se, "grosso modo", do meu texto supra, que, se Portugal pedisse emprestado mil milhões de Euros e os aplicasse numa sua banca nacionalizada, obteria 50 mil milhões. Se pedisse 2 mil milhões, com a mesma aplicação, obteria 100 mil milhões.Como o total da dívida soberana portuguesa anda à volta de 200 mil milhões, seria suficiente um empréstimo de 4 mil milhões para saldar toda essa dívida. Vejam a roubalheira a que o país está sujeito por ser a banca privada a maior beneficiária da "ajuda" da troika!...
E os nossos "representantes" escondem tudo isso muito bem escondidinho...para poderem "mamar" faustosamente com este "sistema" em que vivemos...

12:54 da tarde  
Blogger victor rosa de freitas said...

Dito de outro modo: a dívida real (descontando o "dinheiro" fictício, o "dinheiro" feito do NADA pelos nossos chantagistas-credores)de Portugal é de 4 (quatro)mil milhões de Euros, quantia que o governo se prepara para extorquir aos portugueses (para além do que já extorquiu, com a "necessidade" de austeridade)para entregar à "troika", sendo que a extensão do período de "maturidade" é para garantir que os credores realizem a globalidade da anunciada dívida portuguesa (200 (duzentos)mil milhões), através do sistema bancário e financeiro, com a criação do já referido dinheiro fictício e feito do NADA...

1:19 da tarde  

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