domingo, julho 12, 2015

AS BOLAS E O MEDO...


«"Mother, do you think they'll try to break my balls?" A frase é dos Pink Floyd - mas poderia ser minha, tua ou de quem nos apanhar. E porquê? Porque eu, tu e quem nos apanhar temos, todos os dias, de nos perguntar isso mesmo: "mãe, achas que eles vão tentar "partir-nos" as bolas?" Não tenha dúvidas: eles querem, mesmo, todos os dias, sem parar, como se não houvesse amanhã, dar-te cabo das bolas. Extraí-las, a sangue-frio, de ti. Porque é disso - da falta de bolas - que todo o sistema vive. E É POR ISSO - PELA FALTA DE BOLAS - QUE EU E TU E QUEM NOS APANHAR APENAS SOBREVIVEMOS: SUBVIVEMOS. E É POR ISSO QUE EU, NESTE MOMENTO, ENQUANTO ESCREVO ESTE TEXTO COM A MÃO DIREITA, ESTOU, COM A MÃO ESQUERDA, A AGARRAR NELAS (NAS BOLAS) E A MANDÁ-LOS BUGIAR. SÃO MINHAS, PALHAÇOS!
«O sistema vive do medo e o medo vive das pessoas que têm medo. E as pessoas que têm medo (apesar de haver um provérbio que diz que têm rabo, o que não é nada despiciendo) têm-se. E é por isso, por verem a possibilidade de deixarem de serem exactamente como se têm, que têm medo. Agora sou eu que estou com medo de que não tenhas entendido. Vou explicar de novo. Baixa os olhos para a linha abaixo, por favor. Grato.
«Reformulando: se tu pensares que, ao protestares, podes perder o que tens, o que é que sentes? Vá: não tenhas medo de o dizer. Isso mesmo: medo. Medo do grosso. Tanto medo que até te defecas todo. E o que é que isso te faz fazer? Exactamente: nada. Nem a ponta de um corno. Ficas quietinho, parado - fazes de morto para não te matarem o que tens. Mas a verdade é que tu, se não protestares, vais continuar, na melhor das hipóteses, a ter o que tens. Agora responde-me: o que tens é justo? Agora responde-me: o que te estão a fazer, e a todos à tua volta, é justo? Agora responde-me: seres tu a pagar pela merda que os gestores e os bancários e os governantes e os fedelhos todos dos mercados financeiros fizeram é justo? Pois.
«Vou repetir: o sistema vive do medo. Se tens medo, calas-te. Se te calas, o que está contigo cala-se. Em suma: o teu medo vale milhares de medos. Em suma: o teu medo vale milhares de silêncios. Em suma: o teu medo é a coisa mais valiosa que eles, o sistema, encontram em ti. Sem medo: és uma ameaça. Com medo: és um querido.
«Got it, caguinchas?»
(In "EU SOU DEUS", de Pedro Chagas Freitas, Chiado Editora, págs. 235 e 236)
on-line
Support independent publishing: buy this book on Lulu.