sexta-feira, outubro 25, 2019

COMO SE CARACTERIZA O FASCISMO…

«A definição do fascismo é a sua história. E a história do fascismo pode ser sinteticamente representada por um mapa conceptual que descreva os aspectos originais e específicos da sua originalidade como um fenómeno do século XX, que não teve precedentes nem pode ter réplicas futuras. Qualquer réplica presumida não pertence à história, mas à astoriologia,
«O mapa aqui proposto está dividido em três partes: “a dimensão organizacional”, que diz respeito à composição social, à estrutura associativa e aos métodos de luta do partido; “a dimensão cultural”, que se refere à maneira de conceber o homem, as massas e a política, isto é, à ideologia e ao seu sistema de princípios, valores e fins; “a dimensão institucional”, que diz respeito ao complexo das estruturas e das relações institucionais que constituem o regime fascista nos seus aspectos peculiares. A leitura a três dimensões reflecte, se bem que aproximadamente, a parábola histórica do fascismo.
«”Dimensão organizacional”:
«1. um movimento de massas, com agregação interclassista, mas em que prevalecem, nos quadros dirigentes e na massa dos militantes, jovens pertencentes principalmente à classe média, em grande parte novos na actividade política, organizados na forma original e inédita do «partido de milícia». Isso funda a sua identidade, não na hierarquia social e na origem de classe, mas no sentido da camaradagem, considera-se investido de uma missão de regeneração nacional, considera-se em estado de guerra contra os adversários políticos e visa adquirir o monopólio do poder político usando o terror, a táctica parlamentar e o compromisso com os grupos dirigentes, para criar um novo regime, destruindo a democracia parlamentar.
«”Dimensão cultural”:
«2. uma cultura fundada no pensamento mítico, no sentido trágico e activista da vida concebida como uma manifestação da vontade de poder, no mito da juventude como criadora de história, na militarização da política como modelo de vida e de organização colectiva;
«3. uma ideologia de natureza anti-ideológica e pragmática, que se proclama antimaterialista, anti-individualista, antiliberal, antidemocrática, antimarxista, tendencialmente populista e anticapitalista, expressa esteticamente e não teoricamente, através de um novo estilo político e através dos mitos, ritos e símbolos de uma religião laica, estabelecida de acordo com o processo de aculturação, socialização e integração fideísta das massas para a criação de um novo homem;
«4. uma concepção totalitária do primado da política como experiência integral e revolução contínua, para conseguir – através do Estado totalitário – a fusão do indivíduo e das massas na unidade orgânica e mística da nação como comunidade étnica e moral, adoptando medidas de discriminação e perseguição contra aqueles que são considerados fora desta comunidade, porque são inimigos do regime ou porque pertencem a raças consideradas inferiores ou, em qualquer caso, perigosa para a integridade da nação;
«5. uma ética civil baseada na absoluta subordinação do cidadão ao Estado, na total dedicação do indivíduo à comunidade nacional, na disciplina, na masculinidade, na camaradagem e no espírito guerreiro.
«”Dimensão institucional”:
«6. um aparelho policial que previne, controla e reprime, mesmo com recurso ao terror organizado, a dissenção e a oposição;
«7. um partido único que tem as seguintes funções: assegurar, através da sua própria milícia, a defesa armada do regime, entendido como o complexo das novas instituições públicas criadas pelo partido revolucionário; fazer a selecção dos novos quadros dirigentes e a formação da «aristocracia do comando»; organizar as massas no Estado totalitário, envolvendo-as num processo pedagógico de mobilização permanente, emocional e fideísta; operar dentro do regime como órgão da «revolução contínua» para a concretização permanente do mito do Estado totalitário nas instituições, na sociedade, na mentalidade e nos costumes;
«8. um sistema político fundado na simbiose entre regime e Estado, ordenado segundo uma hierarquia de funções, nomeado de cima e dominado pela figura do «chefe», investido de sacralidade carismática, que comanda, dirige e coordena as actividades do partido, do regime e do Estado, e funciona como árbitro supremo e indiscutível nos conflitos entre os potentados do regime;
«9. uma organização corporativa da economia, que suprime a liberdade sindical, amplia a esfera da intervenção estatal e procura realizar, segundo princípios tecnocráticos e solidários, a colaboração das classes produtivas sob o controlo do regime, para a prossecução dos seus objectivos de poder, mas preservando a propriedade privada e a divisão das classes;
«10. uma política externa inspirada na busca pelo poder e grandeza nacional, com objectivos de expansão imperialista e tendo em vista a criação de uma nova civilização.»
(In “QUEM É FASCISTA”, de Emílio Gentile, Guerra & Paz, págs. 111 a 113)
- Victor Rosa de Freitas –

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