VIR A SER É A DOENÇA DA ALMA…
«O primeiro passo na arte de viver será compreender a distinção entre ignorância e inocência. A inocência tem de ser apoiada, protegida – porque a criança trouxe consigo o maior tesouro, o tesouro que os sábios só encontram depois de árduos esforços. Dizem os sábios que se tornam novamente crianças, que renascem. Na Índia, o verdadeiro Brahman, o verdadeiro conhecedor, chamou-se a si próprio “dwij”, isto é, o que nasceu duas vezes. Porquê o que nasceu duas vezes? Que aconteceu ao primeiro nascimento? Que necessidade há do segundo nascimento? E que vai ele ganhar nesse segundo nascimento?
«No segundo nascimento, ele vai ganhar aquilo que estava ao seu dispor no primeiro, mas que a sociedade, os pais, todos aqueles que o rodeavam, esmagaram e destruíram. Cada criança está a ser recheada com conhecimentos. A sua simplicidade tem de lhe ser retirada, custe o que custar, porque a sua simplicidade não a irá ajudar neste mundo de competição.
«A sua simplicidade fará com que seja visto pelo mundo como um simplório; a sua inocência será explorada de todas as maneiras possíveis. Com medo da sociedade, com medo do mundo que nós próprios criámos, tentamos fazer com que cada criança seja esperta, astuta, bem informada – para que ela entre na categoria dos poderosos e não na categoria dos oprimidos e dos sem poder.
«E logo que a criança comece a crescer na direção errada, ela irá continuar nesse caminho – toda a sua vida se moverá nessa direção.
«Quando compreender que passou ao lado da vida, o primeiro princípio a trazer de volta é a inocência. Deixe cair os seus conhecimentos, esqueça as suas escrituras, esqueça as suas religiões, as suas teologias, as suas filosofias. Nasça de novo, torne-se inocente – e isso está nas suas mãos. Limpe os seus pensamentos de tudo o que não é conhecimento seu, de tudo o que lhe foi emprestado, de tudo o que lhe veio através da tradição, das convenções. Liberte-se de tudo aquilo que lhe foi dado pelos outros – pais, professores, universidades. Uma vez mais, seja simples; uma vez mais seja uma criança. E tal milagre é possível através da meditação.
«A meditação é simplesmente um estranho método cirúrgico que o separa de tudo aquilo que não é seu e deixa ficar apenas aquilo que é o seu ser autêntico. Queima todo o resto e deixa-o ficar nu, sozinho sob o Sol, ao vento. É como se você fosse o primeiro homem que desceu à Terra – que não sabe nada, que tem de descobrir tudo, que busca qualquer coisa, que tem de partir em peregrinação.
«O segundo princípio é a peregrinação. A vida deve ser uma busca – não um desejo, mas uma busca; não uma ambição de ser isto, de ser aquilo, um presidente de um país, um primeiro-ministro de um país, mas uma busca para descobrir «Quem sou eu?»
«É muito estranho que as pessoas que não sabem quem são estejam a tentar tornar-se alguém. E elas nem sabem quem são neste preciso momento! Desconhecem o seu ser – mas têm por meta virem a ser.
«Vir a ser é a doença da alma.
«O Ser é você.»
(In “MATURIDADE”, de OSHO, Bertrand Editora-Chave, págs. 9 a 11)
- Victor Rosa de Freitas –
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