quarta-feira, janeiro 17, 2018

SUBORNAR PARA NÃO SEREM SUBORNADOS?…


«1. Há uma ideia recorrente de que se devem pagar salários altíssimos para que as pessoas não sejam corruptas. A conclusão evidente é que pagar muito para que não se seja corrupto é já por si uma forma de corrupção. É a pior maneira de cativar alguém. Porque quando se contrata uma pessoa e se lhe paga para não ser corrupta, é porque estamos a contratar um corrupto.
«Há muitos escritores ingleses – por exemplo Carlyle – que, embora providos de uma muito razoável imaginação, não conseguem compreender como é que homens como Robespierre e Marat eram ardentemente admirados; a resposta mais correcta é que estes homens eram admirados porque eram pobres – porque eram pobres quando podiam ser ricos.
«”Ninguém se lembrará de sugerir que este ideal vigora na “haute politique” deste país. A nossa pretensão nacional à incorruptibilidade na política assenta precisamente no contrário; na teoria de que, colocando homens abastados em posições seguras, eles não se sentirão tentados a meter-se em fraudes financeiras. Não me interessa agora saber se a história da aristocracia inglesa – desde a espoliação dos mosteiros até à anexação das minas – permite sustentar esta teoria; do que não há dúvida, é que ela é a nossa teoria: que a riqueza serve de proteção contra a corrupção política. O estadista inglês é subornado para não ser subornado. Nasce com uma colher de prata na boca para evitar que de futuro lhe venham a descobrir as colheres de prata no bolso.”
«Se, por exemplo, um político escolher uma tarefa, não pelo fim em si, mas pelo benefício ulterior, então escolheu pelos piores motivos e é muito provável que acabe por não ser competente. A competência exige paixão, determinação, idealismo. O retorno pecuniário deve ser uma consequência e não um fim em si mesmo. É a diferença entre gostar de alguém e, por causa disso, herdar uma fortuna, ou fingir que se gosta de alguém para herdar uma fortuna. Há todo um abismo moral entre uma coisa e outra, um abismo que se manifesta igualmente na competência profissional. Gostar do que se faz, independentemente de tudo o resto (o prazer é um valor inerente, bem como a vaidade, dependem do acto em si e não de um desejo ulterior) gera normalmente profissionais mais capazes. Crer que todos se movem por dinheiro é não apenas um menoscabar do ser humano, como um engano (…)»
(In “JALAN JALAN, UMA LEITURA DO MUNDO”, de Afonso Cruz, Companhia das Letras, págs. 256 e 257)
COMENTÁRIO MEU:
Na MATRIX em que vivemos, a prioridade é dada ao dinheiro.
Porém, uma política de incentivos através de elogios ao bom trabalho, de condecorações pelos bons ofícios e trabalho a favor da comunidade, honrarias para quem trabalha pelo prazer do que faz, seriam grandes alternativas àquela MATRIX.
Mas a alternativa fundamental é dar um sentido para a vida dos seres humanos, fazê-los ver que têm todo um caminho evolucionário a percorrer de acordo com o “impulso” dado pela vontade do Criador, e nele encontrarem a sua realização plena e duradoura, ao invés do efémero prazer que dá a satisfação de desejos que o dinheiro pode comprar…
Já agora, pense nisso!
Disse!
- Victor Rosa de Freitas -


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