segunda-feira, novembro 26, 2018

O LIVRE-ARBÍTRIO EM BUDA…

«Buda enfatizava continuamente a nossa capacidade de atenuar os efeitos das nossas ações kármicas passadas, justamente através disso, através da ação – no sentido mais lato do que pensamos, dizemos e fazemos. Somos capazes de ter peso sobre o nosso futuro kármico, sobre causas e condições. Por conseguinte, Buda não via a questão de determinismo e liberdade como dois conceitos diametralmente opostos, como costumam ser apresentados hoje em dia. Ver a nossa situação como livre ou não livre é, mais uma vez, adotar uma perspetiva dualista. Buda acreditava numa forma suave de determinismo, reconhecendo a influência muito marcante que atos passados têm nas experiências e situações da nossa vida atual, ao mesmo tempo que indicava a liberdade à nossa disposição para alterarmos o nosso rumo. Certas coisas em nós poderão ser pré-determinadas, mas isso não significa que não tenhamos liberdade para escolher a nossa direção na vida. O livre-arbítrio e o determinismo andam de mãos dadas. Na verdade, se pensarmos bem, só somos capazes de ter livre-arbítrio quando certas coisas são pré-determinadas, caso contrário o livre-arbítrio em si mesmo torna-se uma forma de determinismo, pois, invariavelmente, vamos comportar-nos dessa forma. Qualquer que seja a ação que tomemos, vamos tomá-la. Isso não é livre-arbítrio. Por exemplo, fazer o que quer que nos apeteça fazer não é exercer o nosso livre-arbítrio, já que existem pré-condições que nos permitem fazê-lo. Assim, neste caso, o nosso comportamento e a nossa ação são pré-determinados por essas condições prévias – geográficas, culturais, biológicas, psicológicas, entre outras. Tais fatores criaram as condições que produziram a situação em que nos encontramos. Exercer livre-arbítrio, num sentido real, significa ser capaz de ir contra as determinantes, sejam de que variedade forem, ser capaz de ultrapassar esses obstáculos. Se conseguirmos fazer isso, exerceremos o nosso livre-arbítrio.
«Se acreditarmos no karma, temos de acreditar neste aspeto do livre-arbítrio. O karma tem portanto duas vertentes, a questão do determinismo e a noção de liberdade. Sim, a nossa vida, a forma como a vivemos, encontra-se submetida a certas condições pré-existentes, mas isso não significa que tenhamos de permanecer presos ou limitados por elas. Na verdade, Buda distinguia entre velho e novo karma; o primeiro com um determinismo mais forte do que o segundo. O velho karma deixa-nos menos opções, mas nem assim ficamos sem escolha quanto a como o nosso karma passado se manifesta ou dá frutos.»
(In “KARMA – O QUE É, O QUE NÃO É, E PORQUE É QUE IMPORTA”, de Traleg Kyabgon, Pergaminho, págs. 58 e 59)
- TRALEG KYABGON - «Traleg Kyabgon Rinpoche (1955–2012) foi a nona encarnação da linha Traleg tulku, uma linha de altos lamas da linhagem Kagyu do Vajrayana. Ele foi um pioneiro em trazer o budismo tibetano para a Austrália.
«Traleg Rinpoche nasceu em 1955 em Kham (Tibete Oriental), e dois anos depois foi reconhecido por HH 16 Gyalwa Karmapa como a nona encarnação do Traleg Tulkus e entronizado como o Abade do Mosteiro Thrangu. Ele foi levado para a segurança na Índia durante a invasão do Tibete pelos comunistas chineses em 1959. Lá, ele recebeu uma educação tradicional de tulku, complementada por cinco anos de escolaridade na Universidade Sanskrit, em Varanasi , na Índia. Ele viveu e estudou por vários anos no Mosteiro Rumtek em Sikkim, o principal assento no exílio da Linhagem Kagyu. Ele morreu em 24 de julho de 2012 em Melbourne, na Austrália.» (Wikipédia)

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