segunda-feira, novembro 12, 2018

POLITICOMORFISMO…

«Quando nos organizávamos em pequenos grupos nómadas de caçadores-recoletores unidos pelo sangue e pelo parentesco, imaginávamos o outro mundo como sendo uma versão onírica do nosso, repleta de animais mansos, guardados pelo Senhor dos Animais Selvagens para que os nossos antepassados espirituais os pudessem perseguir facilmente. Quando nos fixámos em pequenas aldeias e começámos a cultivar os nossos alimentos em vez de os caçar, o Senhor dos Animais Selvagens deu lugar à Mãe Terra, e o domínio celestial foi reinventado como um lugar governado por um conjunto de deuses da fertilidade que asseguravam colheitas eternas. Quando essas pequenas aldeias cresceram para se tornar cidades-estado independentes, cada uma com a sua divindade tribal, em conflitos constantes entre si, os céus acomodaram um panteão de diversos deuses marciais, sendo cada um o protetor divino da sua respetiva cidade na terra. E quando essas cidades-estado se fundiram para criar impérios gigantescos governados por reis todo-poderosos, os deuses foram reorganizados em hierarquias para refletir a nova ordem política na terra.
«Este fenómeno tem um nome – chama-se “politicomorfismo”, ou «a divinização da política terrena» - e é, até hoje, uma das principais características de quase todos os sistemas religiosos do mundo.»
(In “DEUS – UMA BIOGRAFIA”, de Reza Aslan, págs. 183 e 184)

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