sábado, março 21, 2015

OS BUSCADORES DA VERDADE...


«George Gurdjieff costumava dizer que a maioria de nós é como um homem que nasce imperador, com enormes palácios e tesouros incontáveis, mas vive toda a sua vida no átrio, sem se dar conta de que o átrio não é uma habitação e que nasceu para viver no palácio. Nunca reclamou os seus direitos. Nunca perguntou à existência: «Qual é o meu destino? Porque estou aqui? Qual é o sentido desta vida?» Não é inquiridor. Aceita o que por acaso lhe é oferecido, e pensa que é só isso que a vida tem para oferecer.
«Um homem torna-se inquiridor quando toma consciência de que essa existência mesquinha não pode ser a única que há. A vida tem de conter muito mais. Tem de haver tesouros de que ele não faz ideia, caso contrário, levantar-se cada manhã, comer o seu pão, ir para o seu trabalho, voltar a casa, mover-se como uma roda do berço até à cova... pode essa rotina chamar-se vida? Pode essa rotina encher de canções e dança o seu coração? Quem tiver o mínimo de inteligência recusará viver essa rotina. Viver essa rotina não é viver, é apenas vegetar. Não podemos continuar a vegetar! Temos de lutar para viver, viver em toda a plenitude possível. Temos de reclamar os nossos direitos.
«Um provérbio indiano diz que «nem a mãe dá leite à criança enquanto ela não chora». A criança tem de reclamar, de exigir. Mesmo à mãe. Até a criança se manifestar, o seu desejo e a sua fome não significam nada. Esta existência é a nossa mãe, e temos de pedir, de reclamar, de exigir e insistir no sentido e no significado do nosso nascimento e na razão da nossa vida. Para que servem?
«No momento em que a ideia de um propósito, de um sentido e de um significado nos surge, tornamo-nos "sannyasins", buscadores da verdade. E no dia em que descobrimos o nosso tesouro individual, isso traz-nos uma tal satisfação, uma tal beatitude, que onde quer que estejamos, criamos uma atmosfera, uma fragrância que não é deste mundo, que pertence ao além.
«Feliz é aquele que se torna uma porta para o além, para os segredos e mistérios desconhecidos. Mas quem não se tornar um buscador continuará a respirar, a vegetar, e acabará por morrer sem ter tido qualquer noção do sentido da sua vida.
«Uma grande mulher do século XX, uma grande poeta, Gertrude Stein, estava a morrer. Os amigos tinham-se reunido, porque os médicos os tinham avisado de que poucas horas lhe restavam. Rodeavam a sua cama, em profundo silêncio, de lágrimas nos olhos. A mulher que ia deixá-los não era uma pessoa comum. Falava em palavras de ouro; escrevia coisas quase impossíveis de pôr em palavras. De repente abriu os olhos, olhou à sua volta e perguntou: «Qual é a resposta?»
«Era estranho. Primeiro faz-se a pergunta; só que a pergunta não tinha sido feita e ela pedia a resposta. Pelo menos antes de partir, no crepúsculo da sua vida, estava pronta para a resposta. «Qual é a resposta?» Todos os presentes ficaram confusos, porque não sabendo qual era a pergunta, como poderiam dar-lhe uma resposta? Discutir com uma moribunda que todos veneravam e amavam seria uma falta de respeito, mas ela continuava à espera que lhe dissessem alguma coisa. Finalmente um amigo falou: «Gertrude, esqueceste-te de fazer a pergunta, como havemos de te responder?»
«Ela sorriu: «Bem, então qual é a pergunta?» Foram as suas últimas palavras. Morreu com elas nos lábios. «Então qual é a pergunta?»
«Este pequeno incidente tem um significado profundo. Não sabemos a pergunta e não sabemos a resposta, mas continuamos a arrastar-nos, sem saber de onde viemos, sem saber para onde vamos, sem saber o que fazemos aqui. É uma situação insólita, quase insana.»
(In "Fala-nos do amor", de OSHO, Pergaminho, págs. 201 e 202)
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