O MAGISTRADO E O MESTRE (ESPIRITUAL)…

«Na presença do Mestre, homens orgulhosamente conscientes dos altos cargos que ocupavam no mundo costumavam acrescentar a humildade aos seus outros bens. Em certa ocasião, um magistrado local chegou para uma entrevista no eremitério de Puri, situado à beira-mar. Além da reputação de ser pouco escrupuloso, ele tinha o poder de nos despejar do “ashram”. Embora eu tivesse avisado o meu guru dessa possibilidade, ele permaneceu sentado, com uma expressão de indiferença, e não se levantou para dar as boas-vindas ao visitante. Ligeiramente nervoso, sentei-me perto da porta. O homem teve de se contentar em sentar-se sobre um caixote de madeira, pois o meu guru não me pediu sequer que lhe trouxesse uma cadeira. As evidentes expectativas do magistrado de que a sua importância seria reconhecida com deferência não se concretizaram.

«A visita prosseguiu com uma discussão metafísica. Ao interpretar as Sagradas Escrituras, o magistrado cometeu muitos erros e, à medida que perdia a exactidão, a sua ira aumentava.

« - Sabe que obtive o primeiro lugar no exame de pós-graduação? – Mesmo sem razão, não se coibia de gritar.

« - Senhor magistrado, esquece-se que não estamos na sala de um tribunal – replicou o Mestre calmamente – A julgar pelos seus comentários infantis, eu diria que a sua carreira académica nada teve de notável. De qualquer modo, um grau académico não tem a mínima relação com a realização védica. Os santos não são produzidos em fornadas semestrais, como contadores.

«Perplexo, o visitante permaneceu algum tempo em silêncio e depois deu uma boa gargalhada.

« - Este é o meu primeiro encontro com um magistrado celestial – disse.

«Tempos mais tarde, fez um pedido formal, expresso em termos jurídicos, é claro, pois isso fazia parte da sua personalidade, para ser aceite como discípulo por um período «experimental».»

(In “Autobiografia de um IOGUE”, de Paramahansa Yogananda, Dinalivro, págs. 159 e 160)

- Victor Rosa de Freitas –

Benavente, 08.12.2019