quinta-feira, abril 18, 2019

O HOMEM SEM CULPA…

« - Eu sei – disse Mouch, ficando visivelmente nervoso. – Acho que vai haver um ou outro patife antiquado que se vai recusar a assinar, mas não vão ser suficientemente importantes para influenciar os outros, ninguém há de querer ouvi-los, os seus próprios amigos e conhecidos vão ficar contra eles, acusando-os de gananciosos, e assim não vão causar-nos muitos problemas. Vamos acabar por nos apoderar das patentes e esses tipos não vão ter energia nem dinheiro para nos processar. Mas… - Parou.
«Taggart recostou-se na poltrona, observando-os. Começava a gostar daquela conversa.
« - Sim – disse o Dr. Ferris -, também penso nisso. Recordo-me de um certo magnata que está numa situação capaz de nos arrasar. Se depois vamos ou não conseguir recuperar é difícil dizer. Só Deus sabe o que pode acontecer numa época de histeria como esta, numa situação delicada como a atual. Qualquer coisa pode perturbar o equilíbrio, rebentar com tudo. E, se há alguém que gostaria de o fazer, é ele. Esse homem sabe qual é a questão verdadeira, sabe quais são as coisas que não devem ser ditas e não tem medo de dizê-las. Sabe qual é a única arma perigosa e fatal. É o nosso adversário mais encarniçado.
« - Quem? – perguntou Lawson.
«O Dr. Ferris hesitou, encolheu os ombros e respondeu:
« - O homem sem culpa.
«Lawson fez cara de quem não estava a perceber.
« - O que quer dizer com isso? A quem está a referir-se?
«Taggart sorriu.
« - Quero dizer – disse o Dr. Ferris – que só se pode desarmar um homem por meio da culpa. Por intermédio daquilo que ele mesmo aceita como culpa. Se um homem já roubou um centavo, podemos impor-lhe a punição que se dá a um assaltante de bancos que ele a aceitará. Será capaz de suportar qualquer infelicidade, achando que é merecida. Se não há bastante culpa no mundo, precisamos de criá-la. Se ensinamos a um homem que é errado olhar para as flores e ele acredita em nós e depois olha para as flores, podemos fazer o que quisermos dele. Não se vai defender. Vai achar que é bem feito. Não vai lutar. Mas o perigo é o homem que obedece aos seus próprios padrões morais. Cuidado com o homem de consciência limpa. É esse que vai derrotar-nos.»
(In “A REVOLTA DE ATLAS”, 2º volume, de Ayn Rand, MARCADOR, págs. 229 e 230)
- Victor Rosa de Freitas –

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