domingo, março 10, 2019

«CONHECE-TE A TI MESMO» OU O «EGO OBSERVADOR»…

«Conta um velho conto japonês que, certo dia, um aguerrido samurai desafiou um mestre de zen a explicar-lhe os conceitos de Céu e Inferno. Mas o monge respondeu-lhe, trocista: «Não passas de um estúpido e eu não posso perder tempo com gente da tua laia!»
«Ofendido na sua honra, o samurai encheu-se de raiva e, puxando da espada gritou: «Podia matar-te pela tua impertinência!»
«Isto», replicou calmamente o monge, «é o Inferno».
«Sobressaltado ao ver a verdade naquilo que o mestre lhe dizia a respeito da fúria que o dominava, o samurai acalmou-se, devolveu a espada à bainha e fez uma vénia, agradecendo ao monge aquela lição.
«E isso», disse o monge, «é o Céu».
«O súbito despertar do samurai para o seu próprio estado de agitação ilustra a diferença crucial entre ser-se apanhado por uma vaga de sensações e tomar consciência de que se está a ser arrastado por ela. A injunção de Sócrates «Conhece-te a ti mesmo» refere-se a esta pedra angular da inteligência emocional: a consciência dos nossos próprios sentimentos no instante em que eles ocorrem.
«Poderia parecer à primeira vista que os nossos sentimentos são óbvios; uma reflexão mais cuidada traz-nos seguramente à memória alturas em que estávamos totalmente alheios ao que sentíamos a respeito de determinada coisa, ou só mais tarde nos apercebemos desses sentimentos. Os psicólogos usam um «palavrão», “metacognição”, para significarem a consciência das próprias emoções. Eu prefiro o termo “autoconsciência”, no sentido de uma atenção continuada dada aos nossos estados íntimos. Nessa consciência autorreflexiva, a mente observa e investiga ela própria as experiências, incluindo as emoções.
«Esta qualidade de consciência é semelhante àquilo que Freud descreve como uma «atenção discreta e constante», e que recomenda àqueles que desejam praticar a psicanálise. Uma tal atenção observa com imparcialidade tudo o que passa pela consciência, como uma testemunha interessada mas não interveniente. Alguns psicanalistas chamam-lhe o «ego observador», a capacidade de autoconsciência que permite ao analista observar as suas reações àquilo que o paciente lhe diz, e que o processo de livre associação alimenta no paciente.»
(In “INTELIGÊNCIA EMOCIONAL”, de Daniel Goleman, Temas e Debates-Círculo de Leitores, pág. 58)

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