O RACIOCÍNIO MOTIVADO…
«As pessoas tendem a ter um mau
comportamento epistémico quando participam na política. Apresentam elevados
níveis de tendenciosidade quando debatem ou participam na política. Isto pode
acontecer porque o cérebro humano foi mais concebido para vencer debates e
formar alianças do que para procurar a verdade.
«(…)
«O raciocínio de um vulcano [NOTA
MINHA: termo usado pelo autor do texto para designar tipo de pessoa que pensa
científica e racionalmente sobre política] sobre os dados torna-o mais propenso
a obter crenças verdadeiras e a rejeitar crenças falsas. Mas, para as pessoas
reais, o raciocínio pode ser epistemologicamente perigoso. Empenhamo-nos no
“raciocínio motivado” – tentamos alcançar convicções que maximizem bons
sentimentos e minimizem maus sentimentos. Preferimos acreditar nalgumas coisas
a acreditar noutras e os nossos cérebros tendem a convergir para as crenças que
preferimos ter.
«O psicólogo Drew Westen
desenvolveu uma das experiências recentes mais famosas sobre raciocínio
motivado. Os indivíduos da experiência de Westen eram republicanos e democratas
leais. Foi-lhes exibida uma declaração de uma celebridade, seguida de
informação que poderia fazer a celebridade parecer hipócrita. Depois
apresentou-se aos indivíduos uma «declaração ilibatória» (um teste tinha uma
citação de Walter Cronkite referindo que não voltaria a fazer trabalho
televisivo depois de se reformar, seguido de uma sequência de imagens a mostrar
que trabalhou depois de se ter reformado, com uma explicação a informar
tratar-se de um favor especial). Na experiência, as celebridades eram
identificáveis como republicanas ou democratas. Os indivíduos republicanos
concordavam fortemente que os democratas famosos se contradiziam a si próprios,
mas apenas concordavam debilmente que os republicanos o faziam. Da mesma forma,
os indivíduos democratas aceitavam facilmente declarações ilibatórias do
partido que apoiavam, mas não do outro. A ressonância magnética funcional
mostrou que os centros de prazer dos indivíduos eram activados quando
condenavam membros do outro partido e de novo quando negavam as provas contra
membros do seu próprio partido.»
(In “CONTRA A DEMOCRACIA”, de
Jason Brennan, Gradiva, págs. 61 e 62)
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