domingo, fevereiro 04, 2018

O RACIOCÍNIO MOTIVADO…


«As pessoas tendem a ter um mau comportamento epistémico quando participam na política. Apresentam elevados níveis de tendenciosidade quando debatem ou participam na política. Isto pode acontecer porque o cérebro humano foi mais concebido para vencer debates e formar alianças do que para procurar a verdade.

«(…)
«O raciocínio de um vulcano [NOTA MINHA: termo usado pelo autor do texto para designar tipo de pessoa que pensa científica e racionalmente sobre política] sobre os dados torna-o mais propenso a obter crenças verdadeiras e a rejeitar crenças falsas. Mas, para as pessoas reais, o raciocínio pode ser epistemologicamente perigoso. Empenhamo-nos no “raciocínio motivado” – tentamos alcançar convicções que maximizem bons sentimentos e minimizem maus sentimentos. Preferimos acreditar nalgumas coisas a acreditar noutras e os nossos cérebros tendem a convergir para as crenças que preferimos ter.
«O psicólogo Drew Westen desenvolveu uma das experiências recentes mais famosas sobre raciocínio motivado. Os indivíduos da experiência de Westen eram republicanos e democratas leais. Foi-lhes exibida uma declaração de uma celebridade, seguida de informação que poderia fazer a celebridade parecer hipócrita. Depois apresentou-se aos indivíduos uma «declaração ilibatória» (um teste tinha uma citação de Walter Cronkite referindo que não voltaria a fazer trabalho televisivo depois de se reformar, seguido de uma sequência de imagens a mostrar que trabalhou depois de se ter reformado, com uma explicação a informar tratar-se de um favor especial). Na experiência, as celebridades eram identificáveis como republicanas ou democratas. Os indivíduos republicanos concordavam fortemente que os democratas famosos se contradiziam a si próprios, mas apenas concordavam debilmente que os republicanos o faziam. Da mesma forma, os indivíduos democratas aceitavam facilmente declarações ilibatórias do partido que apoiavam, mas não do outro. A ressonância magnética funcional mostrou que os centros de prazer dos indivíduos eram activados quando condenavam membros do outro partido e de novo quando negavam as provas contra membros do seu próprio partido.»
(In “CONTRA A DEMOCRACIA”, de Jason Brennan, Gradiva, págs. 61 e 62)

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