segunda-feira, janeiro 12, 2015

O QUE PODEMOS DIZER ACERCA DE DEUS?...


«Que podemos nós dizer acerca de Deus? Em primeiro e último lugar, as palavras do salmo: «Nuvens e trevas o envolvem.» Ou, na linguagem melodiosa da "Bíblia de Kralice", «entre os sons da arpa e dos címbalos, uma manta de nuvens o envolve». A fé e o ateísmo são duas visões dessa realidade - o ocultamento de Deus, a sua transcendência e o seu mistério impenetrável. São duas interpretações possíveis da mesma realidade, vistas de dois lados opostos.
«Afirma São Tomás de Aquino que, embora nos seja possível convencermo-nos intelectualmente da existência de Deus, somos obrigados a acrescentar que não sabemos "quem" é Deus (o que Ele é «em si próprio») e "como" é que Ele é e aquilo que o verbo "É" significa quando se refere a Deus. Isso ultrapassa toda a nossa experiência, toda a nossa imaginação, e o âmbito do nosso raciocínio; como Anselmo ensinava, Deus é maior do que tudo aquilo que possamos conceber. Deus "não é", decididamente, no sentido de que "nós somos" ou de que as coisas "são", ou de que o mundo "é". É essa diferença radical entre a sua existência e a nossa existência no mundo que dá lugar à existência do ateísmo e do agnosticismo... e também da fé. Se Deus fosse vulgar e estivesse sempre «ao alcance da mão», não faria sentido na fé arrebatada, não implicaria coragem da esperança humana dizer que "sim" frente ao incompreensível, dizer esse "sim" frente a tudo o que nos impele a proferir um "não" resignado ou, na melhor das hipóteses, um cético "talvez". É precisamente por isso que a interminável confrontação entre fé e descrença é tão fascinante e dramática.
«Apesar de tudo, a Bíblia é um livro de paradoxos - quase todas as suas afirmações são contrabalançadas por outras afirmações que são, ou parecem ser, os seus opostos, o que nos impede de nos espojarmos preguiçosamente à superfície das coisas ou na necrose pouco profunda das certezas ultrafáceis. Um dos paradoxos da Bíblia consiste em duas afirmações que devem ser tratadas com uma enorme cautela, de tal modo que uma contrabalance suavemente a outra: «Deus é um mistério impenetrável» ("Ele habita uma luz inacessível"), mas também, Deus e o homem são semelhantes ("Deus criou o homem à sua própria imagem").
«"Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou", lemos na primeira página da Escritura. Assim, Deus e o homem são, de certo modo, semelhantes. Contudo, se exagerarmos esta verdade, acabaremos com noções antropomórficas primitivas de Deus, e daí só falta um breve passo para a afirmação oposta dos ateus, segundo a qual o homem criou Deus à sua própria imagem.»
(In "PACIÊNCIA COM DEUS", de Tomás Hálík, Paulinas Editora, págs. 85 a 87)
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