O mercado da anarquia do extraordinário povo português
O povo português vive num mercado de anarquia.
Cada um dos seus elementos procura safar-se na vida, meter a sua cunha quando tem problemas, recorrendo a amigos ou conhecidos, fazendo mesmo a sua pequena corrupçãozinha, quando é necessário, enfim desenrascando-se.
Este povo extraordinário vive dentro de um paradigma católico, cristão, sabendo perdoar aos seus inimigos, depois de os ânimos arrefecerem, porque, antes, são impulsivos e, no primeiro embate, querem logo a cabeça do inimigo, não tanto porque este o mereça, mas antes porque “eles”, os senhores da “ordem do estado”, prometeram trazer ordem à sociedade e, dentro do paradigma destes, há que “lhes” solicitar o cumprimento das promessas, de modo exemplar.
Mas os elementos do extraordinário povo português vivem e acreditam apenas no seu mercado de anarquia e sabem que os senhores da “ordem do estado” apenas usam da linguagem da “ordem” porque estudaram, são mais sabedores do que eles, mas, lá no fundo, também são tão anarquistas como eles, porque do mesmo povo também saíram.
As leis dos senhores da “ordem do estado” apenas perturbam o mercado anarquista em que se move o povo.
Quando pretendem os elementos do povo resolver os seus problemas, lá têm que atravessar toda uma teia de leis, decretos, regulamentos, posturas e o que mais quer que seja, obrigando-os a usar de toda a sua sabedoria e expediente (anarquista), para os superar.
Quando os elementos do povo violam uma qualquer lei da “ordem do estado”, têm, pois, sempre mil desculpas para a sua actuação e uma palavra de crítica a tal “ordem do estado”.
Porém, quando são ofendidos por alguém que a põe em causa, ou lhes causa danos, recorrem à mesma “ordem do estado”, exigindo desta o máximo rigor, não tanto pela própria ofensa ou danos que lhe foram causados, mas antes porque aquele “ordem” tem que ser cumprida, nos termos em que foi prometida, pois então!
“Eles”, os senhores da “ordem do estado”, podem fazer mil tropelias, podem ofender a mesma “ordem”, mas serão sempre perdoados desde que “eles” sejam capazes de resolver alguns problemas dos elementos do povo dentro do seu mercado de anarquia.
Se um “deles” (dos senhores da “ordem do estado”) faz negócios que, segundo a mesma “ordem”, põe em causa os interesses do povo, os elementos deste riem-se e retrucam dizendo que as leis da própria “ordem” está nas mãos daqueles e que “eles”, ao desenhar tal “ordem”, já têm a faca e o queijo na mão para violarem os interesses do povo e que este não os pode controlar.
Votam os elementos deste povo extraordinário porque acreditam que se não houver uma dialéctica entre o mercado da anarquia em que se movem e uma qualquer “ordem do estado”, eles é que ficam a perder porque não têm capacidade, por si só, para construírem escolas, hospitais e algumas regras que possam regular o seu mercado anarquista e combater os criminosos, que são apreciados dentro do seu paradigma católico e cristão.
Fora isso, cada um que se desenrasque.
E assim pode ser porque o paradigma cristão em que se movem lhes permite actuar desta maneira.
É verdadeiramente extraordinário o povo português.
Já agora, pensem nisso!
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