sexta-feira, janeiro 06, 2023

O BIG BROTHER...

 

O BIG BROTHER… 

«”A GUERRA, É A PAZ!”

«O “slogan” do Big Brother. Esse ditador, meio homem, meio “media”, que habita um célebre romance de antecipação política de George Orwell: “1984”. Big Brother é, sem dúvida a primeira personagem mitológica dos tempos modernos. Nasce em 1949, depois da Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo que a guerra-fria e os “media” audiovisuais de massas. O tirano fundou o seu poder com base na imagem e no medo. Em cada casa da Eurásia, o país-continente que ele governa, uma televisão está ligada em permanência. Tentar apaga-la é um crime. Esses milhões de ecrãs obrigatórios emitem mas também captam. Distraem e vigiam. O ditador mantém Eurásia sob o domínio do seu olhar panóptico. O Big Brother satisfaz as necessidades da população. O Big Brother criou um grande ministério da Verdade onde se reescreve incessantemente a História. O Big Brother tem sempre necessidade de um inimigo ou de uma guerra para manipular a emoção das multidões.

«Orwell sabe do que fala. Enfiou a cabeça na goela dos dois grandes totalitarismos do século XX, o nazismo e o comunismo soviético. Viu o que escondiam nas suas profundezas: o horror sem fim mascarado pela propaganda, a reescrita instantânea da História para a tornar conforme à versão oficial, o controle total dos “media” de massas. Tem uma visão de pesadelo: uma  sociedade dominada não pelos políticos mas sim por tecnocratas auxiliados por sociólogos especializados no estudo e na gestão do público. Em “1984”, sintetiza a derradeira fórmula de controle das mentes: associar uma ideia a uma medida que é exactamente o seu oposto e conseguir convencer as massas. O Big Brother martela três slogans: «A guerra, é a paz», «A liberdade, é a escravatura», «A ignorância, é a força».

«À primeira vista, a visão de Orwell está arrumada na prateleira dos velhos bibelôs. Ninguém desaparecerá durante a noite por alguma palavra insolente. Os totalitarismos brutais, à excepção de alguns focos residuais exóticos, desapareceram. Somos livres, informados e celebramos o espírito crítico.

«No entanto, esta “novlangue” onde as palavras se mascaram do seu contrário invadiu o nosso quotidiano sem darmos por isso. A nossa época já não diz «despedimentos massivos» mas sim «plano social». Os executores têm por nome «direcção de recursos humanos». A magnífica palavra «globalização» dissimula os arames farpados Concertina, cortantes como navalhas, que contêm a investida dos povos do Sul, as máquinas-ferramenta que partem durante a noite em direcção a um país menos dispendioso. Em direcção aos novos parques industriais do terceiro mundo, por exemplo, onde os operários trabalham como no século XIX, onde muitas vezes os sindicalistas são despedidos ou assassinados. Em certos portões de entrada está escrito: FREE ZONE, zona livre…»

(In “AS NOVAS CENSURAS, Nos Bastidores da Manipulação da Informação”, de Paul Moreira, biblioteca das ideias, págs. 20 e 21)

Benavente, 06.01.2023

- Victor Rosa de Freitas -



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