sábado, novembro 02, 2019

GNÓSTICOS, MISTÉRIOS MENORES, MISTÉRIOS MAIORES E INICIAÇÃO…

«Portanto, aqui temos o problema fundamental: os gnósticos ofereciam a cada iniciado uma experiência direta de Deus por via de um ritual de ressurreição em vida, enquanto a Igreja alegava que a ressurreição da alma só podia ser alcançada se canalizada através dos seus serviços. A partir deste ponto, a tradição secreta praticada pelos gnósticos e por outras ordens esotéricas foi classificada como herética devido a motivos puramente políticos.
«(…)
«O veículo através do qual o conceito de ressurreição em vida era transmitido chamava-se “Mistérios” ou “Conhecimento”. Como as parábolas ensinadas nos primeiros círculos cristãos, os Mistérios eram divididos em dois grupos: os Mistérios Menores levavam os candidatos numa aprendizagem conceptual da ressurreição em vida. Os Mistérios Maiores consistiam na verdadeira experiência, envolvendo uma morte voluntária, seguida de uma lenta recuperação, e eram ensinados apenas a um grupo selecionado. O iniciado era colocado num túmulo figurado e a consciência conduzida para fora do corpo; nesse estado alterado, ele passava para o Outro Mundo e deambulava pelos seus reinos. Após descobrir o verdadeiro lugar e natureza da sua alma, o iniciado regressava, convicto da sua imortalidade, para enfrentar sem medo a aparente tirania da morte física, pois ele já experimentara o Paraíso e estava portanto livre.
«É um grande benefício. Não admira que o “Evangelho de Filipe” insista: «Enquanto existimos no mundo, devemos adquirir a ressurreição.»
«Familiarizado com os segredos ensinados pelos essénios e os nazoreanos, também Jesus mantinha uma estrutura dualista: «A ti é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas a quem não o tem, todas estas coisas são feita em parábolas.» À maioria, oferecia ensinamentos simples, mas aos que iniciou no seu grupo interno – os poucos –era dado conhecimento secreto. Nos textos de Nag Hammadi, Jesus refere-se constantemente ao reino de Deus como um mistério interior, em vez de um lugar físico, largando pistas aqui e ali de que irá transmitir, em segredo, «o que nenhum olho viu e o que nenhum ouvido ouviu e o que nenhuma mão tocou e o que nunca ocorreu à mente humana». Quando os membros da irmandade interna entendessem estes ensinamentos, eram declarados «ressuscitados».
«Os rituais e processos por trás da ressurreição em vida raramente passavam a escrito; eram lembrados usando extraordinários feitos de memória e comunicados verbalmente apenas aos candidatos que tivessem passado longos períodos de estrita observação. Quaisquer textos sobreviventes com respeito aos segredos dos Mistérios indicam que estes consistiam numa experiência direta do mundo espiritual, exigindo a suspensão da vida física normal, incluindo a consciência desperta do indivíduo, um conhecimento das forças da natureza e um encontro com forças elementares incluindo deuses e as almas de antepassados. Os primeiros filósofos, como Platão, explicam como estes «deuses» eram de facto forças ocultas vinculadas à natureza – forças suprarracionais e transcendentes que não podem ser racionalizadas apenas pela contemplação mental.
«Nos rituais egípcios mais antigos, isto envolvia a travessia do limiar da morte para que o iniciado se observasse enquanto espírito no mundo do espírito. Passava-se pela experiência de morrer, mas só metaforicamente, um desmembramento do mundo material e uma redução do corpo físico tanto quanto era possível alguém despir-se da bagagem física para permitir à alma viajar para melhores dimensões. Foi a relação entre o indivíduo e estas forças inatas que formou a ciência sagrada egípcia da “heka”, aquilo a que os europeus vieram a chamar magia.
«Os Mistérios indicavam uma verdade sagrada – que só palavras e imagens são incapazes de representar, mas cuja validade se podia entender através de uma «subida ao céu» ritual. E o método através do qual isto se conseguia chamava-se “iniciação».»
(In “Os GRANDES MISTÉRIOS da INICIAÇÃO – A HISTÓRIA SECRETA DA IMORTALIDADE”, de Freddy Silva, Alma dos Livros, págs. 21 e 23 e 24)
- Victor Rosa de Freitas –

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