sábado, julho 06, 2019

DETERMINISMO, LIBERDADE, PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA…

«Se cada causa tivesse sempre o mesmo efeito, os eventos observados no mundo seriam total, perfeita e absolutamente definidos. A questão é se o nosso mundo será realmente assim. Aparentemente, a resposta é sim, porque, se assim não fosse, não poderíamos atar os sapatos, abrir uma porta, nutrir-nos, etc., mas levaríamos a cabo só uma série de ações, digamos à toa ou no vazio. Daí ressalta a importância do determinismo, o qual impõe que às mesmas causas correspondam (quase sempre) os mesmos efeitos. Deve considerar-se porém que, se tudo no mundo funcionasse de modo rigorosamente determinístico, não haveria nem uma réstia de liberdade. Hoje em dia discute-se muito se somos livres ou não. Se os nossos genes, em primeiro lugar, e a nossa neurobiologia, em segundo, determinassem todas as nossas ações, como alguns tendem a supor, não haveria liberdade, não haveria culpa, não haveria responsabilidade nem justificação para a punibilidade. Nós não somos rigidamente determinados e em certo sentido esse facto dá-nos prazer.
«À parte da questão do determinismo, Agostinho de Hipona apresentou o conceito de livre-arbítrio: se quiser, posso não fazer o que estava «previsto». Provocou assim um debate filosófico que se arrasta há séculos, como uma enorme variedade de opiniões e considerações. Se descermos ao microcosmo da mecânica quântica, verificamos que a causalidade estrita (que garante que cada acontecimento tem as suas causa bem definidas) já não é válida, sendo substituída pela lei da probabilidade, pela indeterminação quântica e pela regra da sobreposição de percursos e estados. A partir de um conjunto relativamente grande de acontecimentos em condições similares poderemos definir um comportamento «médio» das partículas a estudar. Por exemplo, podemos definir o tempo de vida médio de uma partícula instável que, depois de se desintegrar, colide com outras duas; mas nunca poderemos discutir a duração de vida de uma partícula específica. O mundo subatómico é, pois, o reino da probabilidade e da estatística.»
(In “O COSMO DA MENTE”, de Edoardo Boncinelli e Antonio Ereditato, Editorial Presença, págs. 60 e 61)
- Victor Rosa de Freitas –

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