quarta-feira, junho 12, 2019

A NOVA DESORDEM GLOBAL…

«Depois de um prolongado e inquieto equilíbrio que começou em 1945, a velha ordem mundial dominada pelo Ocidente está a ceder o seu lugar a uma aparente desordem global. A Anglo-América já não produz, com confiança, como fez durante dois séculos, o excedente da História global, e as pessoas que ela em tempos dominou irritam-se agora contra as normas e as apreciações produzidas por essa História. Alguns dos debates mais azedos dos nossos dias ocorrem entre pessoas cuja vidas estão marcadas pela história da violência, ainda por reconhecer na sua totalidade, do Ocidente atlântico, e pelos que a veem como apoteose da modernidade liberal: a região do mundo que, desde o iluminismo, deu os passos mais inovadores na ciência, na filosofia, na arte e na literatura e que tornou possível a emancipação do indivíduo do hábito e da tradição.
«Como enteado do Ocidente, sinto-me solidário com os dois lados da discussão. Sei que as experiências divergentes invocadas pelos polémicos representantes do Oriente e do Ocidente – perda e concretização, privação e plenitude – podem coexistir dentro da mesma pessoa. A identidade humana, frequentemente vista como fixa e singular, é sempre uma entidade múltipla, e atravessada por conflitos internos. É também por isso que nestas páginas dou destaque à experiência subjetiva e às noções contraditórias de identidade e me apoio mais nos romancistas e poetas do que nos historiadores e sociólogos.
«As análises materialistas que invocam as abstrações da nação e do capital, que seguem o movimento das mercadorias, as mudanças drásticas nos sistemas climatéricos e o crescimento da desigualdade por intermédio das técnicas da estatística, da sociologia quantitativa e do historicismo continuarão a ser indispensáveis. Mas a nossa unidade de análise também devia ser o simples ser humano, os seus medos, desejos e ressentimentos. É na relação instável entre o “eu” interior e o “eu” público que se pode começar a medir com maior precisão guerra civil global dos nossos tempos.»
(In “TEMPO DE RAIVA”, de Pankaj Mishra, Temas e Debates - Círculo de Leitores, págs. 47 e 48)
- Victor Rosa de Freitas –

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