sexta-feira, maio 31, 2019

OS SISTEMAS TOTALITÁRIOS, A PROPAGANDA E O FIM DA VERDADE…

«A forma mais eficaz de fazer com que toda a gente sirva um único sistema para o qual está orientado o plano social é fazer com que toda a gente acredite nesses fins. Para que um sistema totalitário funcione de forma eficiente não basta que todos sejam obrigados a trabalhar para os mesmos fins. É essencial que as pessoas os passem a considerar os seus próprios fins. Embora as convicções sejam escolhidas e impostas às pessoas, devem tornar-se as suas convicções, uma doutrina geralmente aceite que tente levar o indivíduo a agir, tanto quanto possível, espontaneamente da forma como o especialista do planeamento pretende. Se a sensação de opressão em regimes totalitários é, em geral, muito menos intensa do que muita gente nos países liberais imagina, tal deve-se ao facto de os governos totalitários conseguirem fazer com que as pessoas pensem da forma que eles querem.
«Para isto contribuem, é claro, as várias formas de propaganda, cuja técnica é tão conhecida que pouco há a dizer sobre o assunto. A única questão a realçar é que nem a propaganda em si mesma nem as técnicas utilizadas são específicas do totalitarismo: o que muda por completo a sua natureza e o seu efeito num Estado totalitário é o facto de toda a propaganda servir o mesmo objectivo, de todos os instrumentos da propaganda serem coordenados para influenciarem os indivíduos na mesma direcção e para produzirem a característica “Gleichschaltung” (uniformidade) de todas as mentes. Em resultado, nos países totalitários o efeito da propaganda é diferente, não só em magnitude, mas no tipo da propaganda feita para fins diferentes por organizações independentes e concorrentes. Se na prática todas as fontes da actual informação estiverem sob controlo único, já não se trata apenas de convencer as pessoas disto ou daquilo. Neste caso, a propaganda hábil tem o poder de moldar as suas mentes como queira e nem os mais inteligentes e independentes conseguem escapar por completo a essa influência se estiverem durante muito tempo isolados das outras fontes de informação.
«(…)
«As consequências morais da propaganda totalitária que teremos agora de considerar são, contudo, de um género ainda mais profundo. Destroem toda a moral porque minam os fundamentos de toda a moral, a noção de verdade e o respeito por ela. Pela própria natureza da sua tarefa, a propaganda totalitária não se pode restringir a valores, a questões de opinião e de convicções morais a que os indivíduos mais ou menos quase sempre se conformam, às ideias que regem a sua comunidade, mas tem de se estender às questões de facto, em que a inteligência humana está envolvida de uma forma diferente. E isto, em primeiro lugar, porque para levar as pessoas a aceitar os valores oficiais, estes têm de ser justificados, ou tem de se demonstrar que estão relacionados com valores por que as pessoas já se regem; segundo, porque a distinção entre fins e meios, entre o objectivo visado e as medidas tomadas para o alcançar, nunca é tão rigorosa e definida como uma discussão genérica destes problemas possa dar a entender; e porque, por isso, as pessoas têm de ser levadas a concordar não apenas com os objectivos últimos, mas também com as opiniões sobre os factos e as possibilidades em que essas medidas se baseiam.»
(In “O Caminho para a Servidão”, de Friedrich Hayek, EDIÇÕES 70, págs. 189 a 191)
- Victor Rosa de Freitas –

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