sábado, julho 13, 2019

A ALEMANHA E A REVOLUÇÃO RUSSA…

«(…) as escolhas diplomáticas são, até certo ponto, uma tentativa de prever como os equilíbrios de poder mudarão no futuro. Partindo do princípio que é impossível fazer isto com algum tipo de precisão, não é uma surpresa total as pessoas enganarem-se tantas vezes. Na Suíça, no final da Primavera de 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, um homem de meia-idade com uma barba engraçada tinha uma proposta para o Governo alemão. Era russo e estava desesperado para voltar para o seu país, que se encontrava no meio de uma revolta política, mas a guerra tornava quase impossíveis as viagens pela Europa. A melhor rota para sair da Suíça e regressar para a Rússia era dirigindo-se para norte, pela Alemanha, mas para isso, o homem necessitaria de uma autorização dos Alemães. E o Governo alemão não era fã da sua ideologia política.
«O plano era simples. Apesar de todas as suas diferenças, naquele momento ele e os Alemães partilhavam um inimigo comum: o Governo russo, de que ele não gostava e que queria muito derrubar. O alto-comando alemão estava a travar uma guerra em várias frentes e concluiu que qualquer distracção que pudesse desviar os recursos russos das linhas da frente seria útil. Por isso, concordaram. O homem, a mulher dele e outros 30 compatriotas foram colocados num comboio para um porto no norte do país, de onde continuariam a viagem através da Suécia e da Finlândia. Não era uma grande linha da frente, mas era melhor do que nada. As autoridades alemãs até lhes ofereceram algum dinheiro, e continuariam a ajudá-los a nível financeiro ao longo dos meses seguintes. Devem ter imaginado que, como a maioria dos fanáticos políticos com uma pequena causa, o homem faria algum estardalhaço, fazendo com que os russos os deixassem em paz durante algum tempo, e depois desapareceria tranquilamente para a obscuridade.
«Bom, pois é… aquele tipo era o Lenine.
«Ora, de muitas formas o plano alemão funcionou na perfeição. Na verdade, melhor do que se esperava! Os bolcheviques não se limitaram a distrair as autoridades russas; derrotaram-nas por completo. Em pouco mais de 6 meses, o governo provisório da Rússia desapareceu, Lenine estava no poder e o Estado Soviético tinha sido estabelecido. Os Alemães conseguiram um cessar-fogo com o qual nem se atreviam a sonha em Abril, quando disseram adeus ao comboio de Lenine.
«Todavia, num prazo um pouco mais longo, não pode dizer-se que o plano foi um sucesso estrondoso.
«Para começar, o cessar-fogo na Frente Oriental não ajudou os Alemães a vencer a guerra. E, subsequentemente, as relações entre o novo Estado Soviético expansionista e os seus prestáveis compinchas Alemães depressa azedaram. Avancemos rapidamente algumas décadas e mais uma guerra mundial, e metade de uma Alemanha recém-dividida ficaria sob a alçada soviética.»
(In “Humanos – Uma breve história dos erros mais catastróficos da Humanidade”, de Tom Phillips, OBJECTIVA, págs. 192 a 194)
- Victor Rosa de Freitas –

on-line
Support independent publishing: buy this book on Lulu.