quinta-feira, março 14, 2019

A VERDADE E O PODER…

«A verdade e o poder só conseguem caminhar lado a lado até certo ponto. Mais tarde ou mais cedo, seguem caminhos diferentes. Se queremos poder, a dada altura teremos de difundir ficções. Se queremos conhecer a verdade sobre o mundo, a dada altura teremos de renunciar ao poder. Teremos de reconhecer coisas – as origens do nosso poder, por exemplo – que enfurecerão aliados, afastarão seguidores ou perturbarão a harmonia social. Não há nada de místico nesse fosso entre verdade e poder. Para o testemunhar, basta procurar alguém branco, anglo-saxão e protestante e confrontá-lo com a questão da raça, ou então um israelita comum e falar-lhe da ocupação ou tentar conversar com um homem qualquer sobre o patriarcado.
«Ao longo da História, os estudiosos acabaram sempre diante deste dilema: estarão ao serviço do poder ou da verdade? Deverão ter em vista a união das pessoas, fazendo com que todas acreditem na mesma história, ou deverão deixar que as pessoas conheçam a verdade, mesmo que o preço seja a desunião? As instituições de saber mais poderosas – fossem de padres cristãos, mandarins confucianos ou ideólogos comunistas – colocaram sempre a união acima da verdade. Era por isso que eram tão poderosas.
«Como espécie, os seres humanos preferem o poder à verdade. Dedicamos muito mais tempo e esforço à tentativa de controlar o mundo do que à tentativa de o compreender – e, mesmo quando tentamos compreendê-lo, geralmente fazemo-lo na esperança de que compreendê-lo torne mais fácil controlá-lo. Assim, se sonha com uma sociedade em que reine a verdade e os mitos sejam ignorados, não conte com o “Homo sapiens”. Mais vale tentar a sua sorte com os chimpanzés.»
(In “21 Lições para o Século XXI”, de Yuval Noah Harari, ELSINORE, págs. 280 e 281)

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