sábado, outubro 13, 2018

A INSACIÁVEL GANÂNCIA…

«A ganância é um esforço para se encher com alguma coisa – pode ser sexo, pode ser comida, pode ser dinheiro, pode ser poder. A ganância é o medo do vazio interior. Uma pessoa tem medo de se sentir vazia e quer, de algum modo, possuir cada vez mais coisas. Uma pessoa quer continuar a acumular coisas no seu interior, para conseguir esquecer o seu vazio.
«Mas esquecer-se do seu próprio vazio é esquecer-se do seu ser real. Esquecer-se do seu vazio é esquecer-se do caminho para Deus. Esquecer-se do seu vazio é o ato mais estúpido do mundo de que um homem é capaz.
«Mas porque querem as pessoas esquecer? Transportamos uma ideia que nos é dada pelos outros de que o vazio é a morte. Não é! É uma falsa noção perpetuada pela sociedade. A sociedade investiu muito nessa ideia porque, se as pessoas não forem gananciosas, esta sociedade tal como a conhecemos não pode existir. Se as pessoas não forem gananciosas, quem vai estar louco atrás de dinheiro, atrás de poder? Então, toda a estrutura desta sociedade orientada para o poder cairia. Se as pessoas não forem gananciosas, quem vai chamar «o Grande» a Alexandre? Alexandre será chamado «o ridículo» não «o Grande», o «estúpido» não «o Grande». Então, quem vai chamar respeitável às pessoas que continuam a possuir coisas? Quem vai respeitá-las? Serão alvo de chacota! São loucas, estão a desperdiçar as suas vidas. Então, quem vai respeitar os primeiros-ministros e os presidentes dos países? Nessa altura, as pessoas vão pensar que eles são neuróticos.
«E o mundo vai ser verdadeiramente belo quando se pensar que Adolf Hitler e Mussolini e Churchill e este tipo de pessoas são neuróticas, quando ninguém lhes prestar atenção. Toda a estrutura da política ruirá, porque o político só está ali para obter mais e mais atenção. O político é uma criança que não cresceu. Ele quer que todos estejam à sua disposição, quer que todos o admirem, quer que todos continuem atentos, que lhe prestem atenção.
«(…)
«Ora, não adianta mas acontece sempre o mesmo… Tem um milhão de dólares - já tem mais do que aquilo que consegue gastar, mas está a pedir mais e isso é interminável. As necessidades são pequenas: sim, precisa de comida, de um abrigo, precisa de algumas coisas. As necessidades de todos podem ser supridas; o mundo tem o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas quanto aos desejos… é impossível. Os desejos não podem ser satisfeitos. E como as pessoas estão a satisfazer os seus desejos, as necessidades de milhões de pessoas não são satisfeitas.
«Mas a ganância é basicamente um problema espiritual. Ensinaram-lhe que se não tiver muitas coisas é um zé-ninguém e também tem medo. Por isso, as pessoas continuam a encher-se de coisas. Não ajuda: no máximo, proporciona-lhe um alívio temporário, mas mais cedo ou mais tarde começa a sentir de novo o vazio. Depois, enche-o de novo.
«E o vazio interior é a porta para Deus. Mas disseram-lhe que a mente vazia é a mente do Diabo ou o terreno fértil do Diabo; esse foi o disparate que disseram às pessoas. A mente vazia é a porta para Deus. Como pode uma mente vazia ser o terreno fértil do Diabo? É na mente vazia que o Diabo morre completamente. O Diabo significa a mente, a mente vazia significa a ausência de mente.
«E a ganância é um dos problemas mais fundamentais a combater. Tem de ver por que razão é ganancioso: porque quer manter-se ocupado com coisas. Ao possuir mais e mais mantém-se ocupado, atarefado. Pode esquecer tudo sobre o seu mundo interior, pode continuar a dizer: «Espere! Deixe-me ter mais este bocado e depois vou virar-me para si».
«E é sempre a morte que chega antes de os seus desejos serem satisfeitos. Mesmo que viva mil anos, os seus desejos não vão ser satisfeitos.
«(…)
«A ganância significa adiar a sua vida para amanhã.
«Tente ver a sua ganância. Pode assumir muitas formas: pode ser mundana, pode ser transcendental. Cuidado! Pode assumir a seguinte forma: «Esta vida não merece ser vivida, por isso vou preparar-me para a outra vida. Não vale a pena viver na terra, vou preparar-me para o Paraíso.» Mas isso é ganância.
«Daqueles a quem chama santos, noventa e nove por cento são pessoas gananciosas, bem mais gananciosas do que as que vai encontrar num mercado. A ganância das pessoas que vivem no mercado não é assim tão grande, a sua ganância é muito comum. Pedem mais dinheiro – isso é muito comum. Os seus santos, os seus “mahatmas” dizem: «Isto é temporário. Pedimos uma coisa permanente, queremos uma coisa eterna. Vamos sacrificar o temporário pelo eterno.» Há uma grande motivação; eles vislumbram o Paraíso pelos cantos dos olhos. Lá vão desfrutar e lá vão mostrar a estes tolos que estavam a correr no mercado: «Olhem, já vos tínhamos dito, avisámo-vos. Agora, terão de sofrer no Inferno e nós vamos aproveitar todas as alegrias celestiais.» Mas isto é ganância, e sempre que há ganância não há Céu. A ganância é o Inferno; ela pode ser mundana, ela pode ser transcendental.
«Veja a estupidez da ganância. Não estou a dizer «Renuncie» - atente às minhas palavras -, estou a dizer para ver a estupidez da ganância. Ao observar, a ganância desaparece e a sua energia liberta-se. A sua consciência deixa de estar emaranhada, encurralada pelas coisas – dinheiro, poder, prestígio. A sua consciência é livre. E a liberdade de consciência é a maior alegria.»
(In “Fama, fortuna e ambição”, de OSHO, Nascente, págs. 30, 31, 33, 34, 36 e 37)

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