SENTIR A ALMA PRESA PELO CORPO
Hoje é um daqueles dias em que sinto a alma presa pelo corpo.
Procuro abstrair, soltar as asas da imaginação da alma, mas esta recusa-se à evasão.
O corpo físico prende-a e diz: “Não sais daqui que hoje és minha!”
Normalmente consigo uma alma livre e liberta, que procura o contacto com os outros no afago da partilha da condição humana, na união de todos com o Uno.
Mas hoje, e neste momento, apenas vejo a minha alma presa pelo meu corpo e cada corpo físico do outro a prender a sua própria alma e a dizer para esta: “Hoje não sais daqui que és minha!”.Platão pôs na boca de Sócrates (o antigo) que o governo da cidade deveria pertencer aos Filósofos, aqueles que sabem soltar a alma e partilhá-la com as almas dos outros, cujo objectivo é a harmonia entre almas de corpos diferentes.
Depois reflicto: Sócrates (o moderno) só fez e faz promessas às almas do povo e, no dia a dia, não há promessa que não viole.
E prende as almas em desconforto.
Sócrates (o moderno) faz-nos apenas sofrer e tanto mais quanto mais o comparamos com Sócrates (o antigo).
As almas vivem presas ao “défice”, este prende-nos as almas, o povo sofre, como eu sofro neste momento e apenas se vê indiferença nas almas dos que sofrem.
Cada um com a alma presa pelo seu corpo, cada corpo guarda da prisão da pobre alma.
"Não estás contente?", pergunta um neo-fascista de um director-geral do governo a todos os que sentem a alma “presa”? “Pois então emigra!” – diz o calhordas sem vergonha, que quer a “higiene” dos corpos cujas almas ele põe negras e sujas no cumprimento ultra-zeloso da Lei do Estado.
Já não há filósofos que nos possam e queiram governar e “libertar” as almas da prisão pelos corpos?
Mas libertar as almas da “prisão” pelos corpos não significa “abafar” corpos como fazia o Alma-Grande do “Abafador”, no conto de Torga, o que hoje só parece querer fazer o da pasta da “saúde”.
Significa antes e outrossim, libertar as almas da prisão pelos corpos físicos, mantendo a integridade de ambos, para que as primeiras possam voar em imaginação e em harmonia com os segundos.
Ambos íntegros.
Hoje, neste momento, sinto a minha alma presa pelo corpo e a sociedade politicamente organizada, ao invés de contribuir para o meu bem-estar e dos meus semelhantes, apenas me provoca esta situação, a mim e aos outros.
Para quando um Sócrates-Filósofo-Grego-Antigo a governar?
Para quando uma Justiça ao serviço da Filosofia de um tal Senhor?
Hoje, neste momento, sinto a minha alma presa pelo corpo.
Ambos, corpo e alma, a sofrer, um porque prende, a outra porque está presa.
É assim sentir a alma presa pelo corpo.
PS (em 23.12.2011) - Saiu o Sócrates e entrou um Coelho que aconselha os professores e emigrar e que é ainda mais feroz no combate ao défice, já que, para agradar aos "patrões" da "troika" - que ele tão bem serve como "betinho" bem comportado - exige sacrifícios maiores do que os necessários. A minha alma continua (ainda) presa pelo corpo...
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