quinta-feira, setembro 12, 2019

«O BOM FASCISTA TEM MESMO SAUDADES»…

«O bom fascista tem saudades do tempo dourado em que era amigo do senhor Velez, que trabalhava na António Maria Cardoso (onde agora é um condomínio, e parece que tem as condições todas, até sauna & “j’accuse”). E ai de quem chateasse o bom fascista amigo do senhor Velez, bastava murmurar umas palavras ao senhor Velez, por vezes ele até pagava com bilhetes para o clássico e, ala, assunto resolvido. Toma que já levaste. Era uma limpeza.
«E mesmo que não fossem presos apanhavam um susto. Era de morrer a rir.
«O bom fascista tem saudades do tempo em que uma pessoa podia gozar com os maricas à vontade. E se fossem tentar queixar-se à polícia era ainda pior, na esquadra até riam. Não havia cá paneleirices para ninguém.
«E os pretos em África andavam direitinho. Piavam fininho. Só subiam ao centro da cidade para trabalhar, quase nem se viam (naquela altura não havia muitos em África, eram poucochinhos, não é como agora). Se eram apanhados na zona branca da cidade eram investigados – o que diabo estavam a fazer ali, acaso tinham permissão, autorização de trabalho? Se não tivessem documentos ou fosse necessária mão de obra para alguma construção, levavam-se presos uns quantos, a trabalharem em regime forçado e sem paga (pois se estavam presos – tinham três refeições por dia, cama, não pagavam luz, ainda iriam ter salário?) durante uns meses, até a obra acabar. E só lhes fazia bem. Civilizava-os. Ah, quem é amigo, quem é?
(In “MANUAL DO BOM FASCISTA”, de Rui Zink, Ideias de Ler, pág. 70)
- Victor Rosa de Freitas –

on-line
Support independent publishing: buy this book on Lulu.