domingo, abril 10, 2016

O MATERIALISMO E A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS...


«Com o materialismo, a fraternidade não era mais do que uma palavra, o altruísmo uma teoria sem fundamento nem alcance. Sem fé no futuro, o homem concentraria forçosamente toda a atenção no presente e nos gozos que ele pode comportar. A despeito de todas as solicitações de teóricos e sofistas, ele se sentia pouco disposto a sacrificar sua personalidade, seus gostos ou interesses, em proveito de uma efémera coletividade, à qual o prendiam laços ontem formados e que amanhã se hão de desatar. - Se a morte é o fim de tudo, pensava ele, por que se impor privações que nada virá compensar? Que utilidade têm a virtude e o sacrifício, se tudo deve acabar em nada?
«O resultado inevitável de semelhantes doutrinas era o desenvolvimento do egoísmo, a febricitante caçada às riquezas, a exclusiva preocupação dos gozos materiais; era o desencadeamento das paixões, dos apetites furiosos, das cobiças veementes. E daí, conforme o grau de educação, negocistas ou celerados. Sob o influxo desses sopros destruidores, a sociedade oscila em seus alicerces e, com ela, todas as noções de moralidade e de fraternidade que o novo espiritualismo chega a tempo de restaurar e consolidar.
«"A crença na imortalidade - disse Platão - é o laço de toda a sociedade; despedaçai esse laço e a sociedade se dissolverá." Nossa época, arrastada à dúvida e à negação por exageros teológicos, perdia de vista essa ideia salutar. O espiritualismo experimental lhe restitui a fé perdida, apoiando-a em bases novas e indestrutíveis.
«A superioridade moral da Doutrina dos Espíritos se afirma em todos os pontos. Com ela se dissipa a ideia iníqua do pecado de um só homem, recaindo sobre todos. Não há mais proscrição nem queda coletiva; as responsabilidades são pessoais. Qualquer que seja sua condição neste mundo, tenha nascido no sofrimento e na miséria, ou seja destituído de predicados físicos, ou de brilhantes faculdades, o homem sabe que não padece um fado imerecido, mas simplesmente as consequências do seu procedimento anterior. Às vezes, também, os sofrimentos que o torturam são o resultado da sua livre escolha, desde que os aceitou como fator mais rápido de adiantamento.
«Em tal caso, a sabedoria consiste em aceitarmos, sem murmurar, a própria sorte; em desempenharmos fielmente a tarefa, em nos prepararmos, assim, para situações que se irão melhorando à proporção que, pelos nossos progressos, obtivermos acesso a melhores sociedades, livres dos jugos que pesam sobre os mundos inferiores.
«Graças à Doutrina dos Espíritos, o homem compreende, finalmente o objetivo da existência; nela vê um meio de educação e reparação; cessa de maldizer o destino e acusar Deus. Sente-se livre, ao mesmo tempo, dos pesadelos do nada e do inferno, e das ilusões de um ocioso paraíso, porque a vida futura não é mais uma beatífica, inútil contemplação, a eterna imobilidade dos eleitos, ou o suplício sem fim dos condenados; é a evolução gradual; é, depois do círculo das provas e transmigrações, o círculo da felicidade e sempre a vida ativa e progressiva, a aquisição, pelo trabalho, de uma soma crescente de ciência, poder, moralidade; é a participação cada vez mais extensa na obra divina, sob a forma de missões diversas - missões de dedicação e de ensinamentos, ao serviço da Humanidade.»
(In "Cristianismo e Espiritismo", de Léon Denis, e-book, págs. 227 e 228)

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