segunda-feira, abril 21, 2025

O ATEU…

 

«”Tenho a minha volúpia sem Deus

Em Deus apenas tenho tormento”.»

«O ateu, ou aquele que assim se intitula, pois não é possível ao homem existir sem Deus, representa uma crença contrária às outras, e todavia ele acredita: ele acredita que não há qualquer Deus. Eis o motivo pelo qual, quando pensa nisso, ele apenas encontra tormento e aflição em Deus, perguntando-se se o abandonou para ter a volúpia do corpo e exercer todas as suas paixões, atormentando-se sempre para saber verdadeiramente – digo saber e não acreditar – se existe um Deus ou se não há nenhum. Pois o saber, este, não lhe pertence. Embora a sua boca afirme que Deus não existe, a sua consciência oprime-o, pois ela nunca está em repouso e só conseguirá encontrar repouso em Deus.

«Assim, da mesma maneira como aqueles que atrás referi dizem que existe um Deus, o ateu diz que este de modo nenhum existe. E todos, seja para o bem ou para o mal, nada sabem dele. Acreditam de modo semelhante, e é a isso que chamam saber. Isso deveria antes chamar-se balbuciação.

«Mas o homem verdadeiro, que tem essa sapiência, está no meio deles. Ele vê e conhece os erros e defeitos deles. Sabe como a crença foi engendrada neles e é causa da sua ignorância e do temor que sentem em relação a Deus. Eles não se dão conta de que o saber tem uma força tal no homem que a verdadeira crença que daí resulta permanece nele, quer ele queira ou não. E desse saber outra coisa nunca poderá resultar senão a compreensão do seguinte: a crença está a meio caminho entre a ciência e a ignorância, e há duas formas de crença, uma que é engendrada em nós pelo saber e outra que é engendrada, para nossa ignorância, pela fé e pelo medo que instalam em nós e que é imputado a Deus. A Fé apenas existe devido à ausência de conhecimento, pois onde existe conhecimento a fé está morta e não tem qualquer possibilidade de existir.

«O pobre cristão tem todo o direito de se considerar o mais miserável entre todos os homens da terra, porque a sua salvação, o seu paraíso, o seu repouso, a sua condição a sua beatitude, a sua felicidade estão fundadas na ignorância e no desconhecimento, que a sua crença e a sua fé representam. E embora eles afirmem sempre que sabem e conhecem, trata-se de um saber animal, de papagaio. Limitam-se a proferir e a falar sem inteligência, com o temor que sempre os acompanha e assedia:

«”Quem vive no temor,

seja em que temor for,

não pode ser feliz”.»

(In “A ARTE DE NÃO ACREDITAR EM NADA – LIVRO DOS TRÊS IMPOSTORES”, ANTÍGONA, págs. 37 e 38)

Benavente, 21.04.2025

- Victor Rosa de Freitas -




 

 

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