quinta-feira, outubro 25, 2018

SOBRE A IGNORÂNCIA…

«Vivemos num tempo de incertezas – ou mais estritamente falando, um tempo em que as pessoas aspiram a acreditar que têm certezas. A mundivisão dominante nas culturas ocidentais é um materialismo que proclama ruidosamente: «É assim que são as coisas!» Esta mundivisão diz-nos que os seres humanos evoluíram acidentalmente como resultado de mutações genéticas, que a matéria física é a única realidade, que a nossa consciência – e tudo o que pensamos e sentimos – é o resultado da actividade neuronal dentro dos nossos cérebros. A mesma mundivisão diz-nos que a vida foi sempre uma luta competitiva pela sobrevivência e que a motivação fundamental para tudo o que fazemos é a sobrevivência e a reprodução dos nossos genes. Os fenómenos espirituais e paranormais, que parecem contradizer esta perspectiva – por exemplo, ao implicarem que a separatividade é uma ilusão ou que poderia existir alguma forma de vida além da morte -, são consideradas ilusões que podem ser postas de parte por explicações em termos bioquímicos.
«A razão pela qual o materialismo se tornou tão prevalente reside na necessidade que os seres humanos têm de encontrar explicações. É importante, para nós, dispormos de uma narrativa que dê sentido à nossa situação no mundo. Isto dá-nos uma sensação de controlo. Não nos limitamos a compreender o mundo; sentimos que o compreendemos. As nossas explicações dão-nos poder. Assim o materialismo cumpre a mesma função que a religião.
«Ter certezas também nos concede um sentido de identidade. Quando estamos certos daquilo que amamos, daquilo que odiamos, do que sabemos e do que possuímos, sentimos que somos entidades sólidas e autónomas. Tornamo-nos um centro fixo à volta do qual roda todo o mundo. As nossas certezas são os tijolos da nossa identidade. A falta de certezas torna-nos frágeis face a um mundo vasto e avassalador.
«No entanto, inúmeras tradições e instrutores espirituais ao longo da história têm-nos avisado do perigo da certeza. Muitas tradições espirituais referem a importância de nos libertarmos das certezas e de aceitarmos a nossa ignorância fundamental. Afinal somos seres limitados, com uma perspectiva específica e com um alcance perceptivo específico. É arrogante da nossa parte presumirmos que podemos saber tudo e alcançar uma compreensão total do mundo. A aceitação disto traz humildade, mas também torna possível conquistarmos um conhecimento real. É possível expandirmos a nossa compreensão e consciência do mundo limitada. O primeiro passo deste processo é aceitarmos que somos ignorantes. Como podemos aprender alguma coisa significativa se pensamos que já sabemos tudo?»
- STEVE TAYLOR – In Prefácio a “O LIVRO DA IGNORÂNCIA”, de Vítor J. Rodrigues, Nascente, págs. 11 a 13

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