O PODER E O POETA
(Numa sala, algures…)
PODER: Levanta-te, Poeta!
POETA: (levanta-se)
PODER: Quem és tu, Poeta, para pensares que tens poder para aplicar a “lei” e o “direito” a toda a sociedade sem nossa autorização?
POETA: Sou magistrado. Ingressei na magistratura por concurso público, segundo a lei e fui considerado apto. Segundo a lei, os magistrados aplicam a lei para resolver todos os litígios, conflitos e crimes na sociedade.
CORO: O Poeta que é magistrado,
Julga que pode aplicar a “lei”
Sem autorização do Poder.
Ó Poeta, Poeta, o Poder é que determina a “lei”,
Se, quando e como a mesma é de aplicar.
PODER: Quem te ensinou, ó Poeta, que a “lei” é para resolver todos os conflitos em sociedade?
POETA: Mas não é o que diz a Constituição e toda a organização política do País?
PODER: Quem fez a Constituição fui EU. Quem faz as “leis” sou EU. Tu só as aplicas se EU e nos termos em que EU te autorizar! O MEU braço é longo e tenho controladores de Poetas e outros como tu em todo o lado. Nada podes fazer sem minha autorização.
CORO: O Poeta que é magistrado,
Julga que pode aplicar a “lei”
Sem autorização do Poder.
Ó Poeta, Poeta, o Poder é que determina a “lei”,
Se, quando e como a mesma é de aplicar.
POETA: Mas não vivemos num Estado de Direito, em que a lei regula as relações humanas e define o modo de compor os litígios?
PODER: O “estado de direito” é uma invenção minha. A “linguagem” do “direito” é igual à linguagem de qualquer “ideologia”. Serve apenas para pôr servidores dessa linguagem ao MEU serviço: todos os funcionários do “estado”, em que eu mando. Mas, para a ilusão ser perfeita, também criámos os fiscalizadores e aplicadores da “lei”: os magistrados.
CORO: O Poeta que é magistrado,
Julga que pode aplicar a “lei”
Sem autorização do Poder.
Ó Poeta, Poeta, o Poder é que determina a “lei
Se, quando e como a mesma é de aplicar.
POETA: Mas os magistrados não aplicam a lei a todos os casos e o Poder não pode controlar as suas decisões, conforme dispõe a Constituição e a Lei?
PODER: Os “magistrados” só decidem sobre aquilo que EU permito que chegue ao seu conhecimento. O que EU não quero que eles conheçam não lhes chega, percebes? E, depois, os mais “sábios” do “direito” estão sob a minha vigilância e controle e ao MEU serviço. Estes “sábios” dão a volta ao “direito” e o que é torto passa a estar direito e o que é direito passa a estar torto. Tudo em “linguagem jurídica”. Os “magistrados” nunca ME conseguirão controlar.
CORO: O Poeta que é magistrado,
Julga que pode aplicar a “lei”
Sem autorização do Poder.
Ó Poeta, Poeta, o Poder é que determina a “lei
Se, quando e como a mesma é de aplicar.
POETA: Mas…
PODER: Não há “mas, nem meio “mas”. Levem o Poeta!
(Três energúmenos cumpridores da “lei”, obedecem prontamente à ordem do Poder e arrastam o Poeta para fora da sala).
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