quarta-feira, agosto 20, 2025

DEUS E A ALMA...

«Portanto, como estamos vendo, a primeira coisa que acontece quando é banida da consciência humana a crença da realidade de Deus e, com ela, a da existência de uma alma espiritual, é a da perda imediata de uma referência de valor inquestionável, inamovível, absoluta, pela qual o ser humano possa aferir os seus passos de vida. Sem ela, todo o seu conceito de ser e de viver perde a orientação, incluindo até aquele devido à natureza visto encontrar-se ele já liberto dessa compulsão a que toda a demais criação se encontra sujeita. A partir daqui todos os conceitos a haver e a exigir passam a orientar-se apenas para aqueles primários de subsistência e de conveniência, os mais variados. 

«Ora já sabemos que toda a criação está sujeita a duas forças extremas, uma, a que determina o seu início, conferindo-lhe uma certa energia para que exista e prossiga, e outra, no fim, aquela que a atrai a si. Então, face a esta indiscutível e indispensável verdade, não podemos deixar de chegar a outra conclusão senão a de que esse sentido obrigatório de aperfeiçoamento e complexidade é uma natural consequência decorrente desta verdade. Sem a existência dessa força energética inicial, nada existiria, e, sem a segunda, se acaso fosse possível não existir, uma vez que a segunda e a primeira são uma e a mesma força, qualquer criação logo viria a perder toda a orientação e sentido se é que pudesse, sequer ter tomado existência. E a este sentido orientado do princípio ao fim, toda a criação está obrigada dentro dos limites da sua existência, desde que começa a existir, quando nasce até que morre. E já sabemos que nos animais, através dos mais variados e engenhosos processos de aperfeiçoamento, isso se faz automaticamente por instinto, enquanto nas plantas o mesmo acontece pela acção dos tropismos.

«Ora isto desapareceu no homem quando lhe foi introduzida a alma, pois a partir daí foi-lhe dada uma consciência que, sobrepondo-se aos instintos e tropismos, passou a permitir-lhe a liberdade de poder responsavelmente fazer as escolhas que entendesse serem as mais convenientes à sua vida. E assim foi porque é dessa consciência, que é inerente à substância da própria alma, que não da natureza, que se encontra e nasce nele não só o conceito de justiça como a da injustiça, assim como também o do bem e do mal, do perfeito e do imperfeito, da harmonia e da beleza, do sonho ou da realidade, da generosidade ou do egoísmo, do remorso e da piedade, da arte e da ciência. E também o conceito e a prática da religião.

«Ora estas referências não são encontráveis em nenhum dos campos de vida meramente naturais. Nenhum!... Impossível!... Não há uma só criatura exclusivamente animal que tenha estes itens por referência comportamental pela simples razão de que nenhum deles é fundamental à evolução da vida inerente ao seu plano de viver.

«Por isso, se for do ser humano banida a realidade da existência de um Deus verdadeiro e de uma alma espiritual, também dele todas essas virtudes da alma terão tendência a desaparecer com o tempo, dependendo da geração donde provieram, da educação, da tradição, e da sociedade em que vivem. É só uma questão de mais ou menos tempo. E, uma vez esbatida a sua presença, toda a conduta passará a pautar-se cada vez mais por meras conveniências naturais, quanto muito submetidas a uma pseudo-consciência de características meramente psíquicas, feita por encomenda, subordinada tanto aos interesses do próprio como aos da sociedade em que vive.»

(In “A ACÇÃO DO AMOR DE DEUS NA CIÊNCIA DA CRIAÇÃO”, de Pina Navarro, Calçada das Letras, págs. 113 a 115)

Benavente, 20.08.2025

- Victor Rosa de Freitas -


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