quarta-feira, julho 24, 2019

“ESQUERDA” E “DIREITA”, À LUZ DA CIÊNCIA…

«Está hoje acesa uma polémica assaz ridícula entre «meio-ambientalistas» e «hereditaristas», com os primeiros a dizerem que a inteligência é no geral determinada pelo meio e os segundos que é pela hereditariedade. Os «hereditaristas» julgaram poder calcular que o quinhão da hereditariedade na variabilidade da inteligência seria em média de 80% ou até de 75%, o que não é nada científico. O debate científico politizou-se, porque a inteligência é tabu: podem herdar-se uns cabelos castanhos ou uma calvície, mas, quanto à inteligência, é preciso cuidado! Neste século [NOTA MINHA: o livro donde se extrai esta citação foi escrito no século XX] em que os conhecimentos prevalecem sobre a experiência, em que o poder domina o saber fazer, em que o prestígio das grandes cabeças suplanta a habilidade das mãos pequenas, a inteligência tornou-se o ouro padrão da Bolsa de valores humanos, o critério pelo qual se distingue o bom grão das ervas ruins, as toalhas dos panos de pó.
«Uns privilegiando o carácter hereditário da inteligência, tendem a demonstrar em corolário (e à boca calada) a existência de uma elite congenital (de que evidentemente fazem parte); outros, privilegiando o meio, transformam as desigualdades em injustiças e as carências individuais em faltas da colectividade.
«A ruidosa disputa politizou-se: os meio-ambientistas são de «esquerda» e os hereditaristas de direita, de modo que um cientista sério, cujas pesquisas neste domínio apontem para esta ou aquela conclusão, poderia ser oficialmente rotulado de acordo com uma tendência política com que nada tem a ver. Nenhum geneticista, nenhum psicólogo sério nega a influência do meio, mas também nenhum pode afirmar que todas as crianças são dotadas, ao nascer, de um potencial intelectual idêntico.
«Um tal debate não é alheio ao tema desta obra, pois há diferenças individuais no que concerne à maleabilidade perante o manipulador. Serão tais diferenças atribuíveis mais ao inato dos nossos genes do que ao adquirido no nosso meio? É impossível sabê-lo algum dia, no que a cada indivíduo respeita e, poder-se-ia acrescentar, no que ao propósito deste livro se refere: pouco importa.
«Efectivamente, o inato é inato na fecundação, quando se reúnem e fundem as células sexuais dos pais. Daí em diante, nada mais se pode fazer, a não ser eventuais manipulações genéticas cuja complexidade as relega ainda para o domínio da ficção científica.
«O adquirido é determinado pelo ambiente. É graças ao meio-ambiente que se formam as conexões cerebrais, tornadas possíveis graças à extraordinária plasticidade do cérebro humano. Essas conexões formam-se mais fácil e rapidamente quando as células humanas ainda são plásticas, ou seja, até aos 18-20 anos de idade. É então que se podem construir, com vista a uma protecção contra as manipulações, as mais sólidas barreiras, feitas de conhecimentos. Mas é também nessa idade que mais facilmente se podem inculcar nas «juventudes» (hitlerianas ou não) as ideias falsas, os preconceitos, os «factóides» de toda a espécie. Ou deixar um vazio que algum manipulador se encarregará de preencher.»
(In “A MANIPULAÇÃO DOS ESPÍRITOS”, de Alexandre Dorozynski, Jacqueline Renaud, Helmut Benesch e Walter Schmandt, Assírio e Alvim, págs. 21 e 22)~
- Victor Rosa de Freitas –

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