domingo, agosto 14, 2005

Exposição/Petição ao Senhor Presidente da Assembleia da República

Publico, hoje, a Exposição/Petição que enviei ao Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia da República, que foi distribuida como Petição nº 16/X/1 à 1ª Comissão Parlamentar (dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias) em 19.04.05, com Relator nomeado.
No processo-crime que me foi instaurado pela PGR (pelos mesmos factos do processo disciplinar) o Tribunal da Relação de Lisboa não recebeu a acusação do Ministério Público e proferiu não pronúncia, confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça, com trânsito em julgado.
Sobre esta questão, foi publicado um artigo no jornal "Correio da Manhã", de 11.08.05 que pode ser lido na net clicando em www.correiomanha.pt. Depois, do lado esquerdo em "Pesquisar" basta escrever Procurador ilibado e clicar em OK. No título (igual) que aparecer com um pequeno resumo, basta clicar no título e terá acesso ao artigo completo.
...............xxxxxxxx....................(segue a Exposição/Petição à AR)
De: Lic. Vitor  Rosa de Freitas
B.I. nº , emitido em , por



Residente




SENHOR PRESIDENTE
DA
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
PORTUGUESA



LISBOA



Benavente, 16 de Março de 2005



SENHOR PRESIDENTE


EXCELÊNCIA



Tomei a liberdade de exercer o direito (de petição) de pedir a intervenção do Parlamento Português, através da pessoa de Vossa Excelência, no caso de gritante injustiça de que sou vítima e que passo a expor.

Sempre fui estudante toda a vida, até terminar a Licenciatura em Direito e ingressar no Ministério Público.

Com efeito, nasci em Angola, Sá da Bandeira (hoje Lubango), no dia 29.08.54, onde fiz a escola primária (Escola nº 60) e o 7º ano (antigo) no Liceu Nacional Diogo Cão.

Aos 17 anos vim para Lisboa (em 1972) para a Faculdade de Direito da Universidade Clássica.

Não conhecia ninguém, a não ser um colega que veio comigo de Sá da Bandeira, e, apesar de dificuldades económicas, acabei (com a ajuda financeira de um amigo de infância) o curso com êxito em 26 de Julho de 1978.

Procurando integração profissional, estive a estagiar para advocacia, durante alguns meses, com um Advogado vindo de Angola que me deu o seguinte conselho: “oh pá, tu és demasiado honesto para isto. Porque é que não vais para o Ministério Público?”.

Ingressei no Ministério Público em 1979, ano em que fiz estágio em Lisboa e, em 1980, fui colocado como Delegado do Procurador da República em Santiago do Cacém.

Estive nesta Comarca até 1986, onde fui inspeccionado e classificado de “BOM COM DISTINÇÃO”.

De 1986 a 1987 estive colocado no TIC (Tribunal de Instrução Criminal) de Lisboa.

De Outubro de 1987 a Dezembro de 1993 estive a exercer funções na Comarca de Benavente.

Nesta Comarca, fui inspeccionado pelo meu trabalho entre Outubro de 1987 e Fevereiro de 1990, tendo sido classificado de novo de “BOM COM DISTINÇÃO”.

Em Janeiro de 1994 fui promovido, por antiguidade e mérito, a Procurador da República e colocado no Algarve (Círculo Judicial de Loulé).

Em Julho de 1995, por pedido meu, sou colocado, como Procurador da República, no Círculo Judicial de Évora, onde permaneço até Julho de 1999, data a partir da qual sou colocado no Círculo Judicial de Santarém.

Entretanto, em 1995/96, abrem-me processo de inquérito pré-disciplinar, por factos ocorridos em Benavente reportados a 1993, que consistem, em súmula, ter ordenado a detenção de um burlão, para interrogatório judicial

Tal inquérito, porém, começa com uma certidão “truncada” do processo em que despachara, isto é, como uma certidão falsa para comprometer a bondade do meu despacho e isto porque, a final, o burlão havia negociado com um indivíduo que eu conhecia e em que este teve elevados prejuízos patrimoniais (mais de 80 mil contos).

O mesmo inquérito vem a ser convertido em processo disciplinar em Março de 1999.

Na sequência de tal processo disciplinar, gizado em torno da referida certidão “truncada”, foi determinada a minha expulsão da Magistratura do Ministério Público, no ano de 2000 (ainda pendente de recurso contencioso no STA).

Porquê?

Porque eu dei uma entrevista a uma cadeia de Televisão, em Janeiro de 1999, a propósito de um processo que despachara quanto a um agente da PSP, arguido de ter morto um assaltante de um estabelecimento comercial, em Évora, e que não agradou ao meu Hierarca?

Neste particular correu processo disciplinar contra mim em que o respectivo Inspector Instrutor propôs pena de multa, amnistiada pela Lei de amnistia de 1999 e o processo foi arquivado por decisão do Conselho Superior do Ministério Público.

Logo a seguir a tal entrevista sou classificado de Medíocre, em Inspecção relativa a 1998, em que o Inspector me havia proposto a classificação de “BOM” e a que eu reagira pugnando pelo “MUITO BOM”.

Fui suspenso de funções, durante quatro meses, no ano de 2000, para apreciação da minha aptidão profissional que veio a ser reconhecida, pelo que reassumi funções, até ser afastado, de novo, como refiro infra.

Houve recurso meu desta deliberação para o STA, que a veio a anular por Acórdão de 17.02.04, por falta de fundamentação, o que só comprova que a instituição que devia defender a sociedade e a legalidade, a Procuradoria-Geral da República, tem actuado apenas contra mim de modo pouco ortodoxo, quer legal, quer pessoalmente e que deve – tem de ser - investigada.

Ou ainda a eventual resposta ao “Porquê?” formulado radica no facto de a PGR, com base em “boatos” mal esclarecidos (“caso” de corrupção do Tribunal de Benavente, donde saí, como disse, das funções de Delegado do Procurador da República, em 6 de Janeiro de 1994, por promoção, por antiguidade e mérito, a Procurador da República, no historial supra referido), ter actuado em relação ao Tribunal de Benavente, fazendo uma verdadeira política de “terra queimada” e acusações (melhor “teses” acusatórias) contra terceiros que levaram à absolvição absoluta dos visados, em Tribunal, tudo com trânsito em julgado e porque tais “teses” acusatórias tinham que contrariar um despacho meu a ordenar a detenção de um burlão para interrogatório judicial, despacho este, absolutamente legal, como veremos, mas que foi usado e “fabricado” de “ilegal” para me expulsarem da Magistratura, como bode expiatório dos fracassos “justiceiros” da PGR?

SENHOR PRESIDENTE:

Sei que a separação de poderes não permite a interferência de outras personalidades ou poderes com a Justiça!

Mas sei também que, em Democracia e num Estado de Direito, todos estão subordinados à Lei.

Mas a Lei que é invocada contra mim não é a Lei do Estado de Direito.

Como dizia La Fontaine, “La raison du plus fort c’est. toujours la meilleure”.

Invocam contra mim razões que assentam apenas em afirmações de quem é mais forte (ou mais bem colocado), ou em afirmações de quem é mais fraco (mas interpretadas pelos mais fortes), como mais válidas do que aquilo que eu digo (a verdade), ou imputam-me intenções e intuitos criminosos absurdos e sem fundamento, tudo contra mim.


SENHOR PRESIDENTE:

Sou responsável, isto é, sempre aceitei, ter que responder pelos meus actos, perante quem tem competência para o fazer.

Mas responder pelos meus actos não é o mesmo que responder perante “cabalas” montadas que visam apenas proteger os interesses de poderosos ou salvaguardar “teses” persecutórias absurdas por parte de quem deveria, legalmente, defender a legalidade e a objectividade e, ao invés, procedem a assassínios de carácter, que é o que estão a fazer comigo.

E a Procuradoria-Geral da República tem-se comportado comigo de modo pouco ortodoxo, quer legal, quer pessoalmente, repito.

Que VOSSA EXCELÊNCIA pode, política e legalmente - e deve - fiscalizar e mandar investigar pelo Parlamento.

Tudo está em Tribunal e a ser analisado pelos Tribunais.

Contudo, SENHOR PRESIDENTE, o que chega aos Tribunais vem filtrado a montante para me comprometer e nem tudo é investigado ou criminalmente accionado contra outrém.

E é aqui que surge o meu pedido de intervenção de VOSSA EXCELÊNCIA.

Como desmontar toda esta “cabala” e garantir que, nos casos em que há legalmente indícios contra outrém, haja acusação do Ministério Público?

E que o próprio Ministério Público seja investigado?

Se tento falar nos meios de comunicação social, sou perseguido porque violo o dever de reserva.

Se me calo, a “cabala” avança.

SENHOR PRESIDENTE:

O que devo fazer para que a verdade venha ao decima?

Como garantir que o Estado de Direito funcione?

O Senhor Presidente é Deputado da Nação e é uma personalidade íntegra, superior e humana, com deveres na luta pela cidadania, com larga e comprovada experiência política e legal e garante do Estado de Direito Democrático, consagrado na nossa Constituição da República, que lhe compete respeitar e fazer cumprir.

Eu sou um modesto cidadão que vai tentando mostrar que sou honesto e que apenas tenta fazer Justiça, de acordo com a ética da Lei, nas minhas funções.

Mas fui afastado das minhas funções em 27 de Fevereiro de 2003 em nome da grave urgência do interesse público, verificada em ... 21 de Fevereiro de 2001 – sim, dois mil e um – isto é, “verificada” dois anos antes, tendo eu, entretanto, estado a exercer funções sem qualquer apontamento negativo – e o “interesse público” invocado era relativo a “factos” de 14 a 10 anos atrás.

Nas vésperas de ser afastado de funções (dias 25 e 26 de Fevereiro de 2003), curiosamente, saem notícias na comunicação social (um jornal diário do norte do país e uma estação televisiva) a referirem, injuriosa e difamatoriamente, pretensos factos praticados por mim, no exercício das minhas funções de Magistrado do Ministério Público na comarca de Benavente, como se tivessem toda a actualidade, mas que se reportavam a 14 a 10 anos atrás, de modo a que a “opinião pública” fosse “preparada” para o que a PGR ia fazer.

Em Junho de 2001 formulei ao Presidente do Conselho Superior do Ministério Público pedido (2º) de revisão do meu processo disciplinar, em que demonstrava o absurdo das imputações que me eram feitas, designadamente de carácter criminal, fundamento da minha expulsão, antes de, em qualquer processo crime, me ser feita uma tal imputação.

Ora, se o Ministério Público pode, legalmente, imputar crimes a qualquer cidadão, não pode, legalmente, decidir positivamente sobre a existência de crime, o que é reservado aos Tribunais Criminais, e com sentença de condenação transitada em julgado, sob pena de o mesmo cidadão ser constitucionalmente presumido inocente.

Na fundamentação da deliberação expulsiva do Conselho Superior do Ministério Público, contra o ora exponente, datada de 14 de Dezembro de 2000, afirma-se que este “determinou a emissão de mandados de captura do denunciado” e que “os fundamentos aduzidos no despacho inicial em que determina a captura do denunciado não colhem, havendo antes que concluir que o arguido (o exponente), com essa sua conduta processual, quis proporcionar ao Miranda Alves vantagens negociais, pois que, mesmo que existisse crime de burla, a questão fundamental era de natureza cível.”

(Note-se a redundância da última frase citada já que, como é óbvio para qualquer jurista medíocre, se pode afirmar, com aquela ousadia, que em qualquer dos crimes contra o património a “questão é meramente cível”…)

Em sede de recurso de suspensão da deliberação expulsiva do CSMP, deu o Supremo Tribunal Administrativo como provado que (o exponente) “em tal processo e da não existência de pressupostos justificativos, ter ordenado a detenção do arguido para que lhe fosse presente, visando, assim no intuito de proporcionar vantagens negociais ao seu indicado amigo.”

Ora, sendo o Supremo Tribunal Administrativo um Tribunal de anulação não podia alterar a matéria de facto do processo disciplinar, contra o exponente, como o fez, para adaptar a premeditada pena de demissão do exponente pelo Conselho Superior do Ministério Público e confirmar a sem razão do exponente ao pedir a suspensão da execução da sanção.

Junta-se cópia dos mandados de detenção passado pelo exponente em que se comprova (e é um documento só junto aos autos pelo exponente e que deveria ter sido junto aos autos, pelo Inspector da PGR, o que nunca aconteceu – note-se que é sobre esta questão que no processo disciplinar foi junta uma certidão falsa e truncada, como foi, por mim, já referido) que o arguido (residente na Arruda dos Vinhos), depois de detido, deveria ser apresentado no Tribunal de Benavente, no prazo de 48 horas após a detenção, para interrogatório judicial, nos termos do artº. 141º do Código de Processo Penal.

Tal pedido de revisão do meu processo disciplinar nunca teve qualquer resposta, embora a Lei diga que o prazo para decisão de revisão (ou não) do processo disciplinar é de 30 dias.

E já lá vão mais de três anos de doloroso e inadmissível e ilegal silêncio.

Em Setembro de 2002 sou notificado de uma acusação-crime pelos mesmíssimos factos do processo disciplinar.

Requeri a legal Instrução e produzi finalmente um pouco de prova a meu favor e o Sr. Desembargador de Instrução criminal da Relação de Lisboa proferiu despacho de não pronúncia, considerando toda a minha actuação funcional correcta e os meus despachos legais.

Ou seja, que, quanto a esta mesmíssima matéria e em sede de Instrução do processo-crime contra mim movido pelos mesmos factos (Instrução 9065/02, 9ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa), o Senhor Desembargador de Instrução Criminal, no seu despacho de não pronúncia, afirmou:

“Conclui-se, assim, não estar devidamente indiciado que o arguido (o ora exponente) ao determinar a imediata passagem de mandados de detenção o tenha feito com violação dos critérios de objectividade, isenção e imparcialidade, violando qualquer dever do seu cargo (já que actuou com fundamento legal face aos elementos que constavam da participação), nem com o intuito de favorecer quem quer que fosse, concretamente o Sr. Miranda Alves, visando obter benefícios económicos, uma vez que o Sr. Miranda Alves não tirou qualquer benefício, nem podia retirar, do despacho proferido pelo arguido.”

Como se esperava, o Ministério Público recorreu para o STJ (há que dizê-lo Senhor Presidente: quando os arguidos recorrem há quem diga logo que há excesso de garantias; quando o Ministério Público recorre, ainda que sem fundamento factual ou sério, como é o caso, ninguém diz que há excesso de perseguição) e o recurso encontra-se pendente há mais de 20 meses.

Há mais de vinte e quatro meses (mais de dois anos) que estou afastado de funções, com perda de vencimento e sem qualquer segurança social.

Formulei outro pedido de revisão do processo disciplinar, mas a PGR indeferiu com o fundamento de que eu é que devia ter junto certidão completa do processo.

Ou seja, a Procuradoria-Geral investiga-me. Tudo bem. Mas faz “batota” com os documentos. Esconde cartas do “baralho”. E, depois, alega que eu é que devia ter junto um “baralho completo” ao processo.

Que despudorada e pouco ortodoxa justificação.

Reclamo de tal decisão e há indeferimento, agora com o fundamento de que nunca referi os documentos em falta na defesa (o que é absolutamente falso e, portanto, argumento que qualquer jurista medíocre sabe integrar a figura da má-fé).

Tudo está pendente de recursos.

Mas foi recusada a minha inscrição, como Advogado, no Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados com o fundamento de que, segundo a PGR, eu pratiquei uma falta grave e fui desonesto, do que interpus recurso para o Conselho Superior da mesma Ordem, ainda sem decisão.

Isto apesar de eu constitucionalmente ser presumido inocente.

Ou seja, a PGR injuria-me, difama-me, calunia-me - e para tanto, usa de meios pouco ortodoxos e ilegais – e eu, presumido constitucionalmente inocente, sou atirado para o desemprego e o próprio Estado e uma associação pública (ou quem os representa) não me deixam trabalhar.

Não há o direito de, segundo a nossa Constituição e Leis, se fazerem despedimentos políticos só porque alguém, na minha Hierarquia, não me vê com bons olhos, ou quer justificar “teses” acusatórias absurdas.

Não cair em graça de toda a Hierarquia do Ministério Público ainda não é, segundo a nossa Lei, delito ou crime e, muito menos, fundamento para a expulsão da Magistratura, com falsos argumentos de prática de falsos crimes assentes em falsos intuitos e intenções, não afirmados por um Tribunal Criminal com sentença de condenação transitada em julgado (até agora houve, a nível criminal, um despacho de não pronúncia embora não transitado, por ter havido recurso do Ministério Público).

O Direito ao Trabalho e à escolha do Trabalho são direitos fundamentais Constitucionalmente reconhecidos.

Tenho o direito constitucional de exercer as funções de Magistrado do Ministério Público e preencho as condições legais para tal fim.

Não posso ser “saneado” politicamente, das minhas funções de Magistrado do Ministério Público, sem fundamentos verdadeiros e legais.

Senhor Presidente, peço-lhe a sua superior intervenção e da Assembleia da República, para que o Estado de Direito Democrático que a nossa Constituição consagra vingue e seja uma afirmação de vida e não letra morta em papel.

Tenho, legalmente, o direito de formular esta petição.

Não lhe peço, Senhor Presidente, que não seja isento e imparcial, ou que me faça um “favor”

Mas a isenção e a imparcialidade não podem ser confundidas com indiferença.

E a intervenção que peço é que Vossa Excelência, Senhor Presidente, não seja indiferente e se digne informar-se, legalmente, do que se passa, actue legal e politicamente e ponha termo a esta injustiça gritante.

Além da situação pessoal (pesadelo) que estou a passar, gostaria de formular algumas notas no sentido de serem tomadas providências legislativas, para bem dos demais cidadãos, no futuro, designadamente no seguinte sentido:

1 - nos processos disciplinares contra Magistrados (ou funcionários públicos), os recursos das decisões punitivas mais graves (penas de suspensão, inactividade, aposentação compulsiva ou demissão) devem ter efeito suspensivo, podendo os Conselhos (ou a Administração) invocar e salvaguardar o interesse público através da medida preventiva de suspensão de funções, a qual nunca deverá ultrapassar os dois anos, sem perda do vencimento de função e demais regalias sociais, designadamente assistência médica;

2 - só assim será assegurado o direito fundamental constitucionalmente consagrado da presunção de inocência e dada garantia de que não será o cidadão visado disciplinarmente a suportar os encargos de eventuais atrasos nas decisões dos Tribunais.

3 – nos processos disciplinares contra Magistrados (ou funcionários públicos), quando, aos factos imputados na acusação, sejam aplicáveis as penas mais graves (suspensão, inactividade, aposentação compulsiva ou demissão), o arguido deve ser obrigatoriamente notificado do Relatório do Inspector posterior à acusação e defesa escrita e pode, por escrito, requerer audiência pública de julgamento pela entidade decisora (ou requerer tal audiência por um Tribunal Disciplinar), relativa à matéria de facto e de direito, com imediatismo, oralidade e contraditório, ou só de direito, com oralidade e contraditório, de modo a salvaguardar e garantir que o visado não possa ser vítima de processo de intenções.

Mui respeitosamente e sempre disponível para qualquer esclarecimento complementar, sou, do Senhor Presidente,



Junta: um documento



O Exponente




(Victor Rosa de Freitas)

DOC. Nº 1




DOC. Nº 1
mandados detenção
(clique em cima para ampliar)

segunda-feira, agosto 08, 2005

O Mais Excelente, o Nobre e o Sem Préstimo

O mais excelente de todos é aquele que tudo entende; nobre, por sua vez, é aquele que obedece ao que fala correctamente. Aquele, contudo, que nem entende nem derrama sobre o seu coração o sentido do que escuta de outrem, não tem préstimo.

(Aristóteles, citando Hesíodo, em Ética a Nicómaco, Livro I, IV).

quarta-feira, agosto 03, 2005

Da Existência de DEUS e Qual a SUA Vontade - em seis Capítulos

Capítulo I


Em busca de Deus



I - O Infinitamente Grande

Imagine o leitor, onde quer que esteja a ler este ensaio, na calma e tranquila biblioteca onde se encontra, no aconchego do seu sofá de casa ou porque está com uma insónia, no Café onde costuma estudar, na cadeira da sua secretária de trabalho, num qualquer lugar no intervalo do almoço ou mesmo no banco do autocarro em que se faz transportar, na livraria em que o folheia, num banco de jardim, no seu local de trabalho nocturno, na praia, numa prisão ou num hospital, seja qual for a sua situação económica e social, familiar ou de saúde física mas desde que possa manter a consciência desperta e livre e com um pouco de sossego, que:

- a sua consciência é o CENTRO DO MUNDO e que avança, em imaginação, EM FRENTE, e que nenhum obstáculo se lhe pode opor;

- vá avançando, saindo do lugar de onde se encontra, passando por paredes, muros, montanhas ou o que quer que se apresente à frente da sua imaginação e verá que o exercício é fácil, já que a sua imaginação lhe permite, com verdadeira facilidade, fazê-lo;

- mas continue avançando, em imaginação, e verá que, a breve trecho, avançará mais longe do local em que fisicamente se encontra, da vila, aldeia ou cidade em que lê este livro e, pouco depois, abandonará o próprio país, continente, oceanos, o globo terrestre e entrará no ESPAÇO;

- continue a avançar, com a imaginação da sua consciência e passará por planetas, estrelas, galáxias e entrará no COSMOS;

- persista e avance ainda mais e verá que não há obstáculo possível ao seu avanço, por mais muros e barreiras que a sua imaginação pretenda opor ao avanço da sua consciência;

- e se continuar a persistir no seu avanço, poderá fazê-lo durante o tempo em que tiver resistência para isso, mas chegará a um ponto em que terá que se render, pois entrou no INFINITO, pois não há barreira possível que possa imaginar, que possa travar a sua trajectória, excepto o próprio INFINITO de tal trajectória.


Regresse com a sua consciência ao local de início em que se encontrava fisicamente, à sua biblioteca, casa, local de trabalho, autocarro ou onde quer que se encontrasse.

Descanse um pouco e retome fôlego.

Faça agora o mesmo exercício com a sua consciência a voar com a imaginação, mas não em FRENTE, mas agora para TRÁS:

- verificará que abandonará igualmente o lugar, aldeia ou cidade, país, continente, o globo terrestre e por aí fora até, de novo, ao INFINITO a que se terá que render.

Faça agora o mesmo exercício seguindo a direcção para BAIXO, para CIMA, para o lado ESQUERDO ou DIREITO e confrontar-se-á sempre com a mesma e única objecção ao seu avanço: o INFINITO.

Fazendo este exercício quer primeiro para a ESQUERDA ou DIREITA ou para BAIXO ou para CIMA, para TRÁS ou para a FRENTE, na ordem ou sequência que entender, ou em qualquer dos miríades sentidos existente entre os referidos, verá que a situação é sempre a mesma e única: terá que se render perante o INFINITO.

Mas, dirá o leitor, apesar de isto ser verdade, o que é que isso prova ou tem de útil?

E a resposta é a de que existe o INFINITAMENTE GRANDE, cuja utilidade é um dos objectivos deste ensaio e que em momento próprio será abordado.


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II – O Infinitamente Pequeno

Observe agora o leitor a matéria que o rodeia, entendendo-se por matéria tudo aquilo que pode ser percebido pelos sentidos da visão e do tacto.

Pode ver e sentir pelo tacto objectos e coisas das mais variadas desde este livro até às paredes, veículos automóveis, árvores, rios ou oceanos, pessoas ou animais, pedras e flores ou o quer que seja que à sua volta é perceptível por tais sentidos.

Não nos referimos a certas “coisas” que podem ser vistas mas não sentidas pelo tacto, como as nuvens ou o nevoeiro ou as cores, ou as “coisas” que podem ser sentidas pelo tacto mas não vistas, como o calor e o frio, mas apenas e tão somente às “coisas” que têm forma e três dimensões.

Peguemos numa dessas “coisas”, por exemplo um tijolo, que podemos ver e sentir com o tacto, e partamo-lo aos pedaços, usando um qualquer objecto contundente ou mesmo atirando-o contra um pavimento suficientemente duro.

Partamos depois o pedaço que pareça ser mais pequeno e partamo-lo de novo.

E ao mais pequeno resultante desta última operação e partamo-lo de novo.

Esta operação poder-se-ia repetir sucessivamente até ao INFINITO?

Se usarmos apenas da nossa imaginação parecer-nos-á, à primeira vista, que também existe a DIVISÃO INFINITA DA MATÉRIA.

Tales de Mileto, filósofo grego que viveu cerca de 600 a.C., concluiu que o princípio fundamental de todas as substâncias que constituíam o mundo era, em última instância, a água.

Anaximandro, pouco depois, defendeu que tal substância era uma matéria abstracta, “to opeiron” (o indeterminado) e seu discípulo, Anaximenes, defendia que tudo era feito de ar.

No século V a.C. Empédocles defendeu que o mundo era feito de quatro substâncias básicas, os “elementos” terra, fogo, ar e água – no que viria, mais tarde, a ser seguido pelo próprio Aristóteles, posição esta que perduraria na Humanidade até cerca do séc. XVI.
Anaxágoras afirmava que todas as coisas eram feitas de matéria indivisível.

Demócrito, por seu turno, defendia que a matéria, após um certo número de divisões, não era mais divisível, chamando a estas partículas indivisíveis “átomos”.

Porém, se recorrermos ao conhecimento científico actual e à moderna tecnologia, chegaremos à conclusão de que, se dividirmos a matéria até chegar ao átomo – com o seu núcleo constituído de neutrões e protões e com o(s) seu(s) electrão(ões) que gira(m) à sua volta – e se continuarmos a dividir os elementos que constituem o átomo, chegaremos a um ponto em que a mais elementar forma de matéria existe ou não existe, conforme a observamos ou não ou, de outro modo, que a mais elementar forma de matéria (o “quark”) tem causa e é efeito de uma “força” não material, isto é, sem existência física ou material, que não é visível nem tem lugar certo, saltando de uma órbita para outra, sem qualquer percurso entre órbitas, ou seja, aparece num lugar e depois noutro sem qualquer percurso físico de ligação.

Dito de outro modo e numa linguagem um pouco mais científica, a teoria dos “quanta” veio demonstrar que há unidades mínimas de matéria, isto é, que há porções de matéria a partir das quais se não pode obter matéria mais pequena.

Mas a lógica da divisão até ao INFINITAMENTE PEQUENO, que nos diz ou força a afirmar o contrário, impõe-nos, afinal, a conclusão de que, a partir de certas porções de matéria, pequenas e indivisíveis, haverá sempre “ALGO”, não material.

Bom, dirá o leitor, mesmo admitindo que isto seja verdade que prova ou “utilidade” tem tal verdade?

E a resposta, por ora, é que prova ISSO MESMO, ou seja, que o INFINITAMENTE PEQUENO não é material e a “utilidade” desta prova será um dos objectivos deste ensaio.



Primeiro Corolário



Se agora voltarmos atrás e imaginarmos e admitirmos o INFINITAMENTE GRANDE como constituído sempre por matéria, chegaremos à conclusão de que, conforme vimos na nossa incursão pelo INFINITAMENTE PEQUENO, existirá sempre, por detrás dessa matéria, “ALGO” que não é material e em que ela existe ou “está”. Ou seja, a matéria “está” entre “ALGO” não material.

A igual conclusão chegaremos se, na incursão pelo INFINITAMENTE GRANDE imaginarmos ou admitirmos que, chegados a um certo ponto da nossa “viagem”, o nosso MUNDO MATERIAL terminar – a ciência actual afirma que o universo teve origem no “BIG BANG” (eventual primeiro “QUARK”), altura em que se começou a expandir (e cujo processo de expansão ainda se mantém), sendo, portanto, materialmente limitado.

E se o MUNDO MATERIAL terminar, isto é, se o mundo material é FINITO, para além dele e de acordo com a lógica da nossa consciência e com a existência, já constatada, do INFINITAMENTE GRANDE, para além dele, dizíamos, haverá “ALGO” não material.

Ou seja, e de novo, ter-se-á que concluir que a matéria “está” entre “ALGO” não material.

Segundo Corolário


Conjugando agora todas as afirmações anteriores e usando das faculdades mentais e lógicas que possuímos seremos obrigados a concluir que, PARA ALÉM, POR DETRÁS e ANTES de toda a MATÉRIA EXISTENTE há “ALGO” não material, onde a matéria “está”.

A este “ALGO” chamaremos... DEUS.



Terceiro Corolário


Se o mundo material tem três dimensões (comprimento, altura e largura) o certo é que, havendo outra “dimensão” para além da matéria e onde esta “está”, o MUNDO em que vivemos tem uma Quarta dimensão, a dimensão com DEUS.



Quarto Corolário


Como conclusão lógica do que afirmámos anteriormente e aceitando que o MUNDO teve origem no “BIG BANG” (eventual primeiro “QUARK”, sendo este uma força não material – isto é, sendo uma força de “ALGO”), teremos de concluir que o mundo MATERIAL é criação de DEUS, onde tal mundo existe ou “está”, pois DEUS está PARA ALÉM, ANTES e POR DETRÁS daquele.

E, se assim é, DEUS encontra-se em toda a parte do mundo material (onde este mundo “está”), sendo, portanto, DEUS, necessariamente, OMNIPRESENTE.

E se DEUS é OMNIPRESENTE e, no nosso mundo, existe consciência, DEUS é, também necessariamente, OMNISCIENTE, pois não há consciência fora DELE.

E, se tudo o que existe materialmente é criação de DEUS e se, em tal mundo, existe força ou potência, “estando” tal mundo em DEUS, teremos de concluir, ainda e necessariamente, que DEUS é, também, OMNIPOTENTE, pois não há força ou potência fora DELE.

E se os SERES HUMANOS têm VONTADE, existindo aqueles no mundo material que “está” em DEUS, significa que há uma VONTADE SUPERIOR, a VONTADE DE DEUS, segundo a qual o mundo foi feito e que ultrapassa as VONTADES dos SERES HUMANOS, já que, se há VONTADES SUPERIORES e INFERIORES, nenhuma existe fora DELE e ELE conterá, necessariamente, também a SUPERIOR.



Quinto Corolário


Se DEUS é OMNIPRESENTE e está em toda a parte e se o mundo “está” NELE, nada pode existir fora DELE.

E se nada pode existir fora DELE e se o mundo “está” NELE e se o mundo existe é porque o Mundo foi feito de SI, de DEUS.
Axiomaticamente, se o Mundo foi feito de SI e Criação SUA e nada pode existir fora DELE, DEUS, é porque toda a Criação de DEUS, desde o UNIVERSO, a NATUREZA, os ANIMAIS e os SERES HUMANOS estão DENTRO DELE.

E se assim é, isto é, se nós todos, SERES HUMANOS, existimos, bem como o UNIVERSO, a NATUREZA e os ANIMAIS, sendo tudo isto Criação de DEUS e se DEUS é OMNIPOTENTE, necessariamente que DEUS também é ETERNO pois não pode haver qualquer tipo de “FORÇA” fora de SI e, portanto, que o pudesse CRIAR ou DESTRUIR.

ELE, DEUS EXISTE DESDE SEMPRE E PARA SEMPRE.



1ª Interrogação


Mas será que a criação de DEUS, o UNIVERSO, também é ETERNO ou será antes, meramente TEMPORAL?

É questão que a ciência actualmente coloca e que procura dar resposta, defendendo, v. g. Stephen Hawking que, se a densidade média do universo for superior a um determinado valor crítico, o universo entrará em colapso e o próprio tempo chegará ao fim no Grande Esmagamento (isto é, depois da expansão inicial originada pelo BIG BANG, o universo regredirá até se esmagar); porém defende o mesmo autor, se a densidade média do universo for inferior a um determinado valor crítico, não volta a entrar em colapso, mas continuará a expandir-se eternamente. Na primeira hipótese, prevê aquele génio da ciência que o colapso não ocorrerá antes de dez biliões de anos.

De qualquer modo a questão da eternidade ou não do UNIVERSO não invalida o que acima foi dito, no sentido de que DEUS criou o MUNDO de SI e que tudo o que existe, incluindo o SER HUMANO, está dentro DELE, no seu “CORPO”, criado de SI e que, assim sendo, a própria “CRIAÇÃO” também é “CORPO” SEU, “CORPO” de DEUS.

Se tal “CORPO” da CRIAÇÃO também é ETERNO ou NÃO, não invalida que DEUS é, inequivocamente, ETERNO.


2ª Interrogação


Bom, perguntará, agora, o leitor, mas afinal “QUEM” é DEUS, que conceito podemos formar DELE e qual o SEU objectivo ao CRIAR o MUNDO de SI?

As respostas a estas interrogações procuraremos dá-las nos capítulos seguintes.


(continua)
(continuação)

Capítulo II


O Que ou Quem é DEUS



I – Criação do Mundo


Como tivemos oportunidade de referir no capítulo anterior por detrás da mais pequena forma de matéria – o “QUARK” – que é e não é material, conforme é observado ou não, mas que é causado por e efeito de “ALGO” não material, ou seja, de DEUS, por detrás do “quark”, dizíamos, está DEUS.

Ora, é da “IMPULSÃO” dos “quarks” que aparecem os átomos e da organização destes que aparece a diferente matéria.

Segundo a ciência, há só cerca de cem tipos diferentes de átomos, mas há infinitas maneiras de organizá-los, obtendo-se ou originando gases, líquidos e sólidos.

Dito de outro modo, toda a matéria se compõe de organização de átomos e estes de “QUARKS”, os quais, por sua vez, têm por detrás de si a “mão” invisível de DEUS.

É certo que os homens, mais propriamente os cientistas e químicos, conseguem juntar e organizar conjuntos de átomos dos mais diferentes e obter as mais complexas combinações.

Mas... e a matéria prima, a matéria ORIGINAL, aquela que o homem vai depois trabalhar, a NATUREZA e o UNIVERSO, quem organizou os átomos para tal obra?

Terá sido o ACASO? (Também podemos chamar a DEUS “ACASO”?). O CAOS original? (também LHE podemos chamar “CAOS”?).

Faz pouco sentido...!

Pois bem, se aceitarmos que o MUNDO (matéria) começou com o “BIG BANG”, ou seja, com a criação por DEUS do primeiro “QUARK” e por aí a diante de toda a matéria existente, é legítimo e outrossim urge perguntar para que foi que um “SER” OMNIPRESENTE, OMNISCIENTE e OMNIPOTENTE – em linguagem vulgar, que sempre existiu, existirá, isto é, que é ETERNO, que está em toda a parte e que tudo sabe e conhece e pode e que tudo criou – criou o MUNDO, ou melhor, a MATÉRIA, a ENERGIA, a VIDA, o PENSAMENTO e, mesmo, o ESPÍRITO, sendo a forma mais sublime e espectacular (conhecida) da sua CRIAÇÃO o SER HUMANO que domina sobre a natureza e os animais?

Qual, pois, o GRANDE PLANO DE DEUS?

Note-se que referimos, no penúltimo parágrafo, para além de DEUS e dos “QUARKS”, ÁTOMOS e MATÉRIA, também os conceitos de ENERGIA, VIDA, PENSAMENTO, ESPÍRITO e SER HUMANO, tudo o que é, de acordo com as afirmações feitas ao longo deste livro, CRIAÇÃO de DEUS de SI PRÓPRIO e que existe dentro DELE.

Sabemos, pela nossa própria vivência, conhecimentos e experiência, que o SER HUMANO é o único que possui, cumulativamente, todos estes “conceitos” em si mesmo, ou seja, é constituído por MATÉRIA (o corpo físico), ENERGIA (força), VIDA (auto-gestão de energia), PENSAMENTO (o que o leitor faz, neste momento, ao ler este livro e ter consciência de si próprio como ser autónomo e individual e da linguagem que lhe é transmitida pelo autor – e que o distingue dos animais) e ESPÍRITO (“intuição” de que, no MUNDO, se as coisas se degradam por “força” das forças da natureza (cientificamente, a entropia), há sempre um “impulso” natural no SER HUMANO para organizar as coisas, buscando sempre e cada vez mais a perfeição e melhoria, ao procurar transformar a natureza e dominar os animais e ser o SENHOR do MUNDO – mas senhor do MUNDO que foi, como vimos, criado por DEUS de SI próprio e MUNDO esse, incluindo o SER HUMANO, que existe dentro de DEUS – mas NUNCA, por impossibilidade do mais baixo ou elevado raciocínio lógico, senhor de DEUS).

Por outras palavras, com esta sua última faceta o SER HUMANO procura igualar DEUS, ESTE sim, SENHOR DO MUNDO, pois criou de SI e, ao fazê-lo, o SER HUMANO revela ter a “centelha divina” do CRIADOR, isto é, o SER HUMANO revela ter ESPÍRITO.


II – DEUS antes da Criação


Aqui chegados, imagine o leitor que se encontra um instante antes da criação do MUNDO por DEUS.

Que conceito podemos formar DELE?

Não podemos negar a SUA existência, sob pena de negarmos também a SUA CRIAÇÃO e a nossa própria existência.

Podemos afirmar, em contrapartida e como, aliás, já constatámos, que ELE, para ser e por ser DEUS, é ETERNO, OMNIPOTENTE, OMNISCIENTE e OMNIPRESENTE, sob pena de, admitindo outro “algo” que se LHE oponha, que esteja fora DELE ou anterior a ELE, este, afinal, não seria DEUS, mas uma parte de outro “algo” mais abrangente e poderoso do que ELE.

Diremos, assim, que DEUS é o ABSOLUTO.

Mas estes atributos são apenas a nossa tentativa de definir o que já está definido com a própria palavra DEUS.

Concluiremos, pois, forçosamente e apenas que DEUS “É”.

Abra AGORA os olhos e observe a natureza, ainda que o faça com a sua consciência e de memória:

Há o GLOBO TERRESTRE que se desloca à velocidade de 30 quilómetros por segundo no ESPAÇO e, neste GLOBO, aquecido pelo Sol e à volta do qual roda, há MATÉRIA, ENERGIA, VIDA, PENSAMENTO e ESPÍRITO, tudo em diferentes combinações, desde o GLOBO em si (MATÉRIA), com os seus ventos, chuvas e relâmpagos (MATÉRIA e ENERGIA), plantas e animais (MATÉRIA, ENERGIA e VIDA) e os seres humanos (MATÉRIA, ENERGIA, VIDA, PENSAMENTO e ESPÍRITO).

Note-se que por detrás de qualquer uma destas realidades está DEUS, pois é OMNIPRESENTE, ou, dito de outro modo, qualquer destas realidades está dentro de DEUS, que as criou de SI, incluindo o SER HUMANO.

Não se fascina o leitor com esta OBRA de DEUS?

Não fica extasiado, mesmo após ter visto que TUDO começou pelo primeiro “QUARK”, após o que se formaram outros e depois os ÁTOMOS e estes combinaram-se depois de forma a obter toda esta OBRA DIVINA, de que, aliás todos fazemos parte e que o leitor, como SER HUMANO pode contemplá-la e a si próprio, com os olhos do ESPÍRITO?
Não fica ainda o leitor mais extasiado ainda ao verificar que, afinal, está a observar a CRIAÇÃO de DEUS dentro DELE, incluindo o leitor?

Note-se que se não deve confundir a OBRA (CRIAÇÃO) de DEUS (o MUNDO, incluindo o HOMEM) com o próprio DEUS, que é ETERNO e anterior a ela, sendo que esta OBRA, feita pelo ETERNO de SI PRÓPRIO, existe dentro DELE.

Impõe-se, agora, reformular a nossa questão inicial. Qual o sentido das realidades criadas por DEUS (temos visto, até aqui, a MATÉRIA, a ENERGIA, a VIDA, o PENSAMENTO e o ESPÍRITO) e porque as terá criado ELE que é ETERNO, OMNIPOTENTE, OMNISCIENTE e OMNIPRESENTE?

E a resposta intuitiva a esta pergunta parece-nos não poder ser outra senão a de que DEUS quis fazer de nós, SERES HUMANOS, verdadeiros “DEUSES”, para que nos sentássemos à SUA mesa e com ELE, como “INDIVIDUALIDADES”, partilhássemos o PARAÍSO.

O SER HUMANO busca a sua perfeição e que o seu ESPÍRITO (“CENTELHA DIVINA” ou “ESSÊNCIA” de DEUS) domine o PENSAMENTO, a ENERGIA, a VIDA e a MATÉRIA. Este é o seu caminho INTERIOR em busca do DIVINO, ao mesmo tempo que no “EXTERIOR”, actua sobre a CRIAÇÃO de DEUS que referimos antes (nas diferentes combinações de MATÉRIA, ENERGIA, VIDA, PENSAMENTO e ESPÍRITO) e da qual ele próprio, SER HUMANO, faz parte. Qualquer destes CAMINHOS (INTERIOR e “EXTERIOR”) é – porque todas as realidades são criação de e existem dentro de DEUS – a VONTADE de DEUS.

Se juntarmos, agora, a actuação daqueles dois CAMINHOS, isto é, se os apreciarmos em conjunto e na sua actuação simultânea e em paralelo, facilmente perceberemos que eles tendem, cada vez mais, a juntar o SER HUMANO a DEUS.

E quando o SER HUMANO se encontrar com DEUS (QUANDO o SER HUMANO dominar a sua realidade INTERIOR e “EXTERIOR” através do ESPÍRITO que é, como vimos, a “CENTELHA DIVINA”, a “ESSÊNCIA” de DEUS) teremos a concretização “DAQUILO” a que, em linguagem religiosa, se chama a SANTÍSSIMA TRINDADE, ou seja, o PAI (DEUS), o FILHO (o SER HUMANO) e o ESPÍRITO SANTO (a “CENTELHA DIVINA” ou “ESSÊNCIA” de DEUS ou a “MANIFESTAÇÃO” DESTE na CRIAÇÃO) unidos em UMA SÓ PESSOA.

E UMA SÓ PESSOA PORQUE DEUS (A SUA “ESSÊNCIA” O SEU “É”), SERÁ TUDO EM TODOS.

Nessa altura o SER HUMANO estará no PARAÍSO.

Faz-se notar, porém, que a concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE não é viável INDIVIDUALMENTE, isto é, não pode ser alcançada por um só SER HUMANO, por mais que ele se desenvolva em direcção a DEUS. Tal papel coube a CRISTO, encarnação individual de DEUS. A SANTÍSSIMA TRINDADE apenas se concretizará quando todos os SERES HUMANOS atingirem a “ESSÊNCIA” de DEUS.

Assim, todo o SER HUMANO que pretenda usar a sua liberdade para a concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE terá de AMAR O SEU SEMELHANTE COMO A SI MESMO e a DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS, como nos ensinou, aliás, CRISTO.

E CRISTO foi morto pelo seus semelhantes porque quis demonstrar a VERDADE daqueles preceitos.

Mais tarde, voltaremos a esta questão.

Voltemos, contudo, agora, um momento atrás até, de novo, às “realidades” que referimos antes – MATÉRIA, ENERGIA, VIDA, PENSAMENTO e ESPÍRITO.

Todas elas, como tivemos oportunidade de apreciar, existem dentro de DEUS que as “CRIOU” de SI.

Assim sendo, DEUS possuía, em SI, todas elas.

Como foram, então elas “criadas”?

Já vimos, na busca de um conceito de DEUS, que apenas podemos dizer que ESTE “É”, sendo ESTA a SUA “ESSÊNCIA”.

Mas também vimos que o próprio SER HUMANO, nos seus caminhos INTERIOR e “EXTERIOR”, procura dominar, com o ESPÍRITO, o PENSAMENTO, a VIDA, a ENERGIA e a MATÉRIA.

Assim sendo e se todas estas “realidades” estão em DEUS, que as criou de SI, então DEUS, para a CRIAÇÃO, INVOLUIU a sua “ESSÊNCIA” (o “É”), em PRINCÍPIOS INFERIORES.

Isto é, INVOLUIU a sua “ESSÊNCIA” no princípio inferior do PENSAMENTO, este no princípio inferior da VIDA, este no da ENERGIA e este no da MATÉRIA.

Nesta INVOLUÇÃO o SUPERIOR foi “tapado” por PRINCÍPIOS inferiores, sucessivamente até à MATÉRIA.

Do “APERTO” do SUPERIOR com tais princípios INFERIORES foi originada uma “CONTRACÇÃO” fortíssima que “REBENTOU” no “BIG BANG”, originando, agora, uma EVOLUÇÃO.
PARA QUÊ?, perguntará o leitor, de novo.

Para que, após a EXPLOSÃO inicial, o PRINCÍPIO SUPERIOR, à medida que fosse manifestando a sua superioridade, aproximando-se da sua “ESSÊNCIA” inicial e original, fosse criando, através da EVOLUÇÃO, “INDIVIDUALIDADES”, sendo que destas, a com mais elevada manifestação conhecida, por ora, é o SER HUMANO.

Apreciemos as afirmações com um pouco de linguagem mais terra a terra e menos mística:

Sendo certo que parece não haver dúvidas para o leitor de que a matéria – gasosa, líquida e sólida – varia com a infinidade de combinação dos cerca de cem átomos conhecidos, o certo é que qualquer cientista afirmará que a matéria contém energia e que já Einstein se celebrizou com a sua fórmula E=mc2 segundo a qual E é igual a energia, m é igual à massa (esta, em termos simples, igual à quantidade de matéria) e c2 a velocidade da luz ao quadrado e o mesmo génio já afirmara que a energia tem massa, sendo possível transformar energia em massa e massa em energia.

Não é menos certo, porém, que para modificar uma pequena quantidade de massa é necessária uma grande quantidade de energia (por exemplo, calor – forma de energia - para aquecer um pequeno copo de água), ou, dito de outro modo, uma pequena quantidade de massa (matéria) contém uma grande quantidade de energia – o que é hoje um lugar comum desde a bomba atómica de Hiroshima e com o uso da energia nuclear.

Vemos, pois, assim, que o PRINCÍPIO DA ENERGIA se INVOLUIU em MATÉRIA, havendo uma grande quantidade daquela nesta.

Poder-se-á, em linguagem comum, responder à questão de, atendendo às realidades do ESPÍRITO, PENSAMENTO, VIDA, ENERGIA e MATÉRIA, dizer qual a hierarquia entre elas, qual é a causa de qual?

Já apreciámos a questão da MATÉRIA e ENERGIA.

E quanto às restantes?

Se perguntarmos a um qualquer cientista qual é a diferença entre uma rosa artificial e uma borboleta colocadas lado a lado, a sua resposta será a de que não há qualquer diferença entre as duas a nível atómico ou de organização de átomos. Mas, responderá o mesmo cientista, a diferença entre as duas radica em algo mais do que a perfeita organização atómica das borboletas.

É que, para além da organização atómica que diferencia as duas, há uma “componente” que distingue uma da outra, ou seja, uma não tem VIDA e a outra tem.

E se é certo que as plantas têm vida não é menos certo que os animais também a têm e, mais do que isso, e é o que os distingue das plantas, também têm um pulsar interior e INSTINTOS, ou seja, um conjunto de “informações” que os fazem reagir de certa maneira aos estímulos exteriores, um certo querer embrionário ou imanente.

E a diferença entre os animais e o HOMEM radica em que este tem raciocínio e consciência de si próprio, ao contrário dos animais, que poderão ter consciência do mundo exterior, mas não de si próprios, enquanto actuantes no mundo, nem equacionar-se em relação a si e ao mundo que os rodeia. Aliás, o HOMEM possui uma outra característica que o afasta e distingue de qualquer outra forma de vida individualizada. É a sua VONTADE (e VONTADE REFLEXIVA). Com esta, o HOMEM define-se a si próprio, equaciona-se no seu querer, quer-se actuante no MUNDO, busca a sua própria autonomia e afirmação consciente. O ANIMAL, por seu turno, é escravo dos seus próprios instintos ou das solicitações exteriores que sobre ele se exercem, não equacionando a sua própria existência, enquanto actuante no MUNDO, nem da razão da existência deste ou de DEUS. O ANIMAL satisfaz os instintos que lhe dizem ter fome ou necessidade de procriação e sobrevivência ou mesmo, quiçá, de bem-estar instintivo, ao passo que o HOMEM questiona não só os instintos, reflectindo sobre eles e ultrapassando-os com a sua VONTADE, como questiona a sua própria existência, do MUNDO, de DEUS, donde veio e para onde vai, em suma: quer-se ultrapassando-se a si próprio e modificar o MUNDO.

Por isso se afirma que o HOMEM “PENSA” e tem ESPÍRITO, embora se possa afirmar que os ANIMAIS também têm, mas não mais, uma forma de pensamento rudimentar.

Porém, para além do PENSAMENTO, o HOMEM tem, também, a “CENTELHA DIVINA” ou ESPÍRITO, isto é, a capacidade de se equacionar a si próprio e ao MUNDO, os seus próprios instintos e a vida, a sua origem e o seu destino, para que foi criado e para onde vai, por que existe e qual a razão de ser da sua existência e, utilizando a sua VONTADE, exerce a sua influência sobre o MUNDO (criação de DEUS), transformando-o e procurando dominar, CONSCIENTE e REFLEXIVAMENTE, o MUNDO que o rodeia, seja ele material, animal ou HUMANO.

Fazendo um pequeno parêntesis, refira-se que, hoje em dia, com o desenvolvimento da informática e da cibernética, é questão frequente perguntar qual a diferença entre o HOMEM e um COMPUTADOR ou uma qualquer máquina criada pelo HOMEM e que faz diversas operações e cálculos rapidíssimos, com todas as potencialidades, se não mais, que o “espírito” HUMANO. A resposta a esta questão é absolutamente simples. Qualquer máquina criada pelo HOMEM e por mais potencialidades que tenha, nunca terá uma característica única do HOMEM: a VONTADE. É através da VONTADE que o HOMEM revela a sua liberdade e o seu querer, a sua LIBERDADE de se afirmar e pretender igualar DEUS (haverá alguma máquina criada pelo HOMEM que possa pretender afirmar que o HOMEM é criação dela, máquina, como o HOMEM faz, por vezes, afirmando ser DEUS uma criação do HOMEM?), se não no poder, ao menos no conhecimento. A VONTADE (e VONTADE REFLEXIVA), - característica única e exclusiva do HOMEM, é o reflexo da manifestação nele da “CENTELHA DIVINA”, a sua IMAGEM de DEUS.

Parece-nos, agora, caro leitor, que a questão inicial e usando apenas uma linguagem vulgar, só tem uma resposta, isto é, se pretendermos dar uma hierarquia à MATÉRIA, ENERGIA, VIDA, PENSAMENTO e ESPÍRITO, não teremos qualquer dúvida em afirmar que o ESPÍRITO está no topo, seguido do PENSAMENTO, da VIDA, da ENERGIA e da MATÉRIA.

É intuitivo para todos nós, caro leitor, embora sem possibilidades de afirmação científica experimental em laboratório (mas se olharmos para o MUNDO com a mesma intuição, perceberemos facilmente que este é um LABORATÓRIO em que nós, SERES HUMANOS, somos parte dele e nele actuamos), que o ESPÍRITO domina o PENSAMENTO, este a VIDA, ser esta uma forma superior da ENERGIA e, esta última, comandar a MATÉRIA.

É evidente que o HOMEM, dominando a ENERGIA, pode destruir vidas, mesmo humanas ou que, dominando, como nos primórdios da HUMANIDADE, certa matéria (um cacete, por exemplo), pode apagar uma VIDA HUMANA, com PENSAMENTO e ESPÍRITO, mas isso não invalida a hierarquia de superioridade dos princípios, como deixámos referido.

Voltamos, assim, à nossa questão inicial da hierarquia daqueles conceitos (ou realidades), cuja resposta acaba de ser dada.

E tudo isto, embora seja admissível como VERDADE, que utilidade tem ou o que implica a nível de uma vivência prática e concreta no MUNDO?, perguntará o leitor.

Continuaremos a abordar a questão nos capítulos seguintes, não sem que, antes, apenas se refira que, sendo nós SERES HUMANOS, criação de DEUS de SI PRÓPRIO e que vivemos DENTRO DELE, nunca estaremos sós e que todos temos o DIREITO DIVINO, quem quer que sejamos, HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS, BRANCOS, PRETOS, VERMELHOS, AMARELOS ou “CRUZADOS”, de viver a nossa vida e “trabalhar” no “CORPO” (CRIAÇÃO) de DEUS, dentro DELE.

(continua)
(continuação)

Capítulo III


Quem é ou foi Jesus Cristo?


Vimos nos capítulos anteriores a aproximação racional do que é ou quem é DEUS, a sua CRIAÇÃO, a hierarquia entre ESPÍRITO, PENSAMENTO, VIDA, ENERGIA e MATÉRIA e também que o sentido da obra de DEUS era o de fazer dos SERES HUMANOS verdadeiros DEUSES e que, na escala evolutiva do HOMEM este se sentaria à MESA DO PAI (DEUS), quando o FILHO (SERES HUMANOS) estivesse unido entre si e com o PAI (DEUS) no ESPÍRITO SANTO (CENTELHA DIVINA), isto é, quando se concretizasse a SANTÍSSIMA TRINDADE.

Desenvolvendo um pouco mais ainda este tema, teremos que o SER HUMANO, na sua evolução INTERIOR, busca o seu caminho de ligação com o seu CRIADOR, isto é, é religioso, buscando saber qual a razão de ser da sua criação e finalidade da mesma.

Olhando um pouco para trás, para a HISTÓRIA depois da CRIAÇÃO do MUNDO e do HOMEM, por DEUS, a realidade que o HOMEM é e o seu relacionamento com o seu MUNDO interior e exterior, chegaremos à conclusão que o HOMEM tem dois CAMINHOS fundamentais de evolução, esses mesmos, o seu mundo INTERIOR e o EXTERIOR.

Começando pelo último, verificamos, através da HISTÓRIA, que o HOMEM tem transformado o MUNDO, procurando dominar a natureza, os animais e os próprios homens que o rodeiam.

Tudo isto, porém, causado pela sua afirmação INTERIOR, aquela força DIVINA que o faz mover e afirmar-se.

E se o HOMEM vai evoluindo a nível EXTERIOR, dominando o que o cerca, desde os elementos da natureza, plantas e animais e, mesmo, o seu semelhante, não é menos certo que tal evolução tem a ver, como causa directa e necessária, com a sua evolução INTERIOR, primeiro da satisfação das suas necessidades fundamentais de sobrevivência e afirmação (defesa da VIDA), depois das necessidades em função das determinações do PENSAMENTO e, finalmente, das suas necessidades do ESPÍRITO.

O HOMEM, ao defender as suas necessidades fundamentais de sobrevivência e afirmação, BUSCA (INSTINTIVAMENTE) a comida e a reprodução da espécie. Satisfeitas estas, PENSA no que fará a seguir e utilizará o PENSAMENTO para garantir a satisfação permanente daqueles mesmos instintos e, garantida esta, procurará equacionar a sua existência e o sentido da vida (meditação ESPIRITUAL). É claro que, no nosso MUNDO actual, encontramos, porque todos os SERES HUMANOS vivem em diferentes posições quanto a estas questões, HOMENS que buscam a sua sobrevivência e meditam, outros que pensam na maneira de a garantir e satisfazem os instintos e outros que meditam sobre a existência e o sentido da vida e oprimem o seu semelhante. E há miríades de combinações possíveis e reais quanto a esta problemática.

Contudo, é tese do autor, como vimos em capítulo anterior, que o que move o SER HUMANO na sua ESSÊNCIA, e para isso foi criado por DEUS, é a realização da SANTÍSSIMA TRINDADE. Significa isto que o SER HUMANO tende, por VONTADE DIVINA, a unir-se ao PAI (DEUS), através do ESPÍRITO SANTO, unindo ESTE todos os SERES HUMANOS com o mesmo PAI.

Porém, é dentro desta problemática de haver SERES HUMANOS que lutam pela sobrevivência, embora possam meditar, OUTROS que pretendem e se esforçam por garantir o que conquistaram e OUTROS que, já tendo tudo aquilo, pensam e querem, utilizando a sua VONTADE, manter os seus privilégios, em detrimento dos outros que não atingiram tal grau, que ALGUNS, exceptuando OUTROS, se afastam daquela ESSÊNCIA da criação do SER HUMANO, qual seja a de atingir a SANTÍSSIMA TRINDADE.

E é aqui que surge uma outra questão posta por todos aqueles HOMENS que buscam a SANTÍSSIMA TRINDADE, os chamados homens verdadeiramente religiosos, homens de fé ou de BOA VONTADE.

Para estes, como decorre do exposto, sendo esta a VONTADE DIVINA, todo o SER HUMANO deveria ver no seu semelhante um reflexo de si próprio, alguém a quem deveria respeitar como a si mesmo, por ter a mesma essência e CAMINHO COMUM, única via de concretizar a SANTÍSSIMA TRINDADE.

Mas como, infelizmente, nem todos os seres humanos estão em tal CAMINHO, os HOMENS DE BOA FÉ ou de BOA VONTADE, sentindo-se impotentes perante esta realidade e não querendo ofender a DIVINDADE e a SUA VONTADE, esperam e desejam que venha um MESSIAS, inabalável na sua ligação com a VONTADE DIVINA, um UNGIDO de DEUS, que traga aquela PALAVRA sobre o CAMINHO e a VONTADE do CRIADOR e que transforme os HOMENS de pouca fé ou fora do CAMINHO DIVINO.

E é, nesta sequência, que aparece a figura de JESUS CRISTO, o FILHO DE DEUS, que deu a SUA própria vida para mostrar aos HOMENS que ELE seguia apenas a DEUS e à SUA VONTADE, salvando deste modo a HUMANIDADE ao demonstrar que, apesar de os homens lhe tirarem a vida por ter tal OBJECTIVO, tal era a VONTADE DO PAI.

E a VONTADE DO PAI, segundo nos ensinou CRISTO, é AMAR A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS E AO SEMELHANTE COMO A SI PRÓPRIO, MESMO QUE OS SEMELHANTES O MATASSEM POR TAL OBJECTIVO, O QUE DE FACTO ACONTECEU.

E é, nesta mesma sequência, que os HOMENS de FÉ e de BOA VONTADE, esperam, após o sacrifício de CRISTO, que este venha, de novo, não com a PALAVRA e em SACRIFÍCIO, mas com a ESPADA, julgar todos os OUTROS e mesmo TODOS, uma vez que não há SER HUMANO sem pecado, isto é, algum que, alguma vez, por actos, palavras ou pensamentos, se não tenha afastado do objectivo da SANTÍSSIMA TRINDADE.

Mas, perguntará o leitor, mesmo sendo tudo isto VERDADE, o que se deverá fazer?

CRISTO já deu a RESPOSTA e nós procuraremos abordar a questão em capítulo posterior.
(continuação)

Capítulo IV


Quem é ou o que é o Diabo?


Como vimos anteriormente os HOMENS DE BOA FÉ ou verdadeiramente RELIGIOSOS seguem o objectivo DIVINO de alcançar a SANTÍSSIMA TRINDADE, isto é, vivendo, como ensinou CRISTO, AMANDO DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS E AO SEU PRÓXIMO COMO A SI MESMO.

Todos aqueles, porém, que se afastam de tal OBJECTIVO, são considerados como filhos ou apaniguados ou servindo a vontade do DIABO.

É tese do autor, como decorre do exposto, que o DIABO não existe, a não ser como figura de contraste em relação à VONTADE DIVINA de concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE.

Na medida em que os HOMENS se afastam de tal objectivo DIVINO fazem o papel do DIABO, figura que é criada e tem existência na estrita e directa medida em que os HOMENS ou a VONTADE destes se afasta daquele objectivo.

Sendo DEUS OMNIPOTENTE, OMNISCIENTE e OMNIPRESENTE, inadmissível é tal figura de contraste com ELE, a não ser como criação de referência do HOMEM para definir as actuações humanas que se afastam do OBJECTIVO DIVINO.

Mas, à medida que os HOMENS se afastam de tal objectivo, a figura do DIABO ganha corpo, perante a impotência dos HOMENS DE BOA VONTADE em contrariá-los, sem ofender os princípios DIVINOS.
Por isso, afirmam aqueles mesmos HOMENS DE BOA VONTADE, que actuar de acordo com a VONTADE DIVINA e sem pecado é estar com DEUS e o contrário será estar com o DIABO e que nesta luta, uns estão do lado de DEUS e outros do DIABO, na estrita medida em que uns seguem e outros não a VONTADE DIVINA, acreditando os primeiros que a BESTA será, afinal, derrotada, ao contrário dos segundos, sendo certo que o DIABO só poderia vencer a batalha na estrita medida em que os HOMENS renunciassem à VONTADE DIVINA.

Se observarmos bem e com atenção, verificamos que o MAL (intuitivo para qualquer SER HUMANO) tem sempre como ponto de referência a ofensa àquela linha mestra da concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE.

BEM, perguntará, porém, agora, o leitor: o que fazer, então, quando um SER HUMANO, nosso semelhante, nos ofender profundamente, ocupando a figura do DIABO?

A questão é absolutamente pertinente e de difícil resolução, mas parece ao autor que a resposta será sempre a de que o fio condutor da actuação do ofendido deverá ser o exemplo de CRISTO.

Porém, CRISTO era a VERDADE, não só nas PALAVRAS, mas também nos ACTOS e foi morto pelos Homens apenas por seguir a VONTADE DIVINA, mostrando-nos o CAMINHO e aceitando, para tanto, ter de ser morto.

Não sendo nós, Homens, perfeitos, ainda que não demos a outra face “tout court”, poderíamos antes buscar a afirmação a nível interior de ligação a DEUS, isto é, sem se viver em função do agressor, mas sim e sempre sem perder de vista o direito de defesa da DIGNIDADE DIVINA do agredido (e do agressor) e na estrita e necessária medida em que esta for ofendida ou realmente posta em causa.

Isso mesmo é o que está consagrado na lei dos HOMENS, com a figura da chamada legítima defesa.
Por outro lado, e porque a realização espiritual plena INDIVIDUAL de qualquer SER HUMANO só despontará com a concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE, isto é, quando TODOS os SERES HUMANOS se unirem ao PAI, através do ESPÍRITO SANTO, todo o indivíduo humano sofrerá a “carga” do atraso espiritual dos demais, por muito desenvolvido que seja “espiritualmente” e até, diga-se, sofrerá tanto ou mais quanto maior for o seu desenvolvimento e o atraso dos demais.

Esta “carga” negativa sobre a Humanidade que, afinal, afecta todos e que leva a actos de pecado, também pode ser chamada de DIABO ou BESTA.

Não iremos, porém, desenvolver mais este tema sobre as questões de como actuar perante os agressores que actuam contra a VONTADE DIVINA e sobre a legitimidade de cada SER HUMANO defender tal VONTADE contra o seu semelhante, mas dedicaremos antes um capítulo ao ESPÍRITO SANTO para o leitor que se sinta motivado e interessado em conhecer a nossa posição.
(continua)
(continuação)


CAPÍTULO V


O Que É o ESPÍRITO SANTO


Vimos no CAPÍTULO II a resposta à interrogação sobre Qual o GRANDE PLANO DE DEUS ao fazer a SUA OBRA, a CRIAÇÃO.

Vimos que ELE INVOLUIU a sua “ESSÊNCIA” em princípios inferiores, porque tudo o que existia não podia ter existência fora DELE, já que ELE, por ser OMNIPRESENTE, tudo contém e nada existe nem poderia existir fora DELE.

E com que objectivo?

Para que, na EVOLUÇÃO subsequente à INVOLUÇÃO nos princípios inferiores, fossem criadas “INDIVIDUALIDADES” que se sentassem à SUA mesa no PARAÍSO.

Isto é, DEUS quis fazer, de nós, SERES HUMANOS, verdadeiros “DEUSES” e que com ELE, como “INDIVIDUALIDADES” partilhássemos da SUA “ESSÊNCIA”.

Vimos, também, anteriormente que houve uma EVOLUÇÃO posterior a uma INVOLUÇÃO, esta necessária à CRIAÇÃO.

Significa isto que DEUS, quando se INVOLUIU, tinha a Intenção, já e desde sempre, daquele objectivo de fazer dos SERES HUMANOS verdadeiros “DEUSES”.

A esta intenção corresponde o ESPÍRITO SANTO.

Foi SANTA e infinitamente bondosa, um acto de PURO AMOR, a intenção de DEUS se dividir em “INDIVIDUALIDADES” (o SER HUMANO), para tanto se tendo INVOLUÍDO (“fazendo” a CRIAÇÃO), de modo a que houvesse uma EVOLUÇÃO que levasse ao aparecimento dos SERES HUMANOS.

Toda esta INTENÇÃO de DEUS atravessa toda a SUA “CRIAÇÃO” e tem o nome de ESPÍRITO SANTO, ou AMOR DIVINO.

O SER HUMANO não é um anjo caído, mas produto da EVOLUÇÃO daquela INVOLUÇÃO inicial de DEUS em princípios inferiores.

As referências em textos Sagrados ao paraíso perdido do HOMEM não passam de referências Humanas ao IDEAL (platónico) do que seria a perfeição Humana e que correspondia ao fim dos tempos ou o objectivo final de DEUS, através do ESPÍRITO SANTO, feitas pelos profetas e Homens de Boa Vontade e condutores da Humanidade, para levarem aos Homens um ideal de comportamento que, não sendo referido como Anterior, não receberia eco e daria lugar a todas as especulações e condutas de liberdade fora do PROJECTO DIVINO.

O pecado, já por nós analisado, mais não é do que a predominância, no SER HUMANO, daqueles princípios inferiores da inicial Involução a predominarem sobre a actuação do ESPÍRITO SANTO, o QUAL, a final e nos fins dos tempos, vencerá inequivocamente a batalha para a concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE.

Daí que, também, ao longo da História Humana, o próprio conceito de DEUS, pelos SERES HUMANOS, tenha variado e EVOLUÍDO.

Quando todos os SERES HUMANOS se encontrarem em sintonia com o ESPÍRITO SANTO, teremos a concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE: o PAI (DEUS), o FILHO (todos os SERES HUMANOS) e o ESPÍRITO SANTO (a Manifestação e a Vontade de DEUS na Criação), unidos em UMA SÓ PESSOA.

DEUS SERÁ TUDO EM TODOS.

Dedicaremos, em seguida, apenas um Capítulo à afirmação INTERIOR e EXTERIOR de cada SER HUMANO, de acordo com tal objectivo DIVINO, tudo isto, aliás, para o leitor que se sinta motivado e interessado em conhecer a nossa posição.


(continua)
(continuação)

Capítulo VI


O Interior dos Seres Humanos e o “Exterior”


Todos nós, SERES HUMANOS, temos o nosso INTERIOR, a nossa ESSÊNCIA, a nossa CONSCIÊNCIA, o nosso EGO, aquilo que individualiza o autor do leitor, o Manuel da Maria ou do António, a Gertrudes do Felizberto, ou o José...

Cada um de nós tem a sua INDIVIDUALIDADE, quer seja político destacado ou desempregado em dificuldades, doutor ou analfabeto, príncipe ou servo, agricultor ou citadino, branco, preto ou amarelo, religioso ou ateu, bom ou mau..., homem ou mulher.

Mas se é verdade que a realização INTERIOR do HOMEM passa e tem como objectivo a realização da SANTÍSSIMA TRINDADE, por ser essa a VONTADE DIVINA, não é menos certo que há actuações de HOMENS que se afastam de tal VONTADE, dando corpo, como vimos, à figura do DIABO.

Significa isto, como corolário necessário, que, embora por VONTADE DIVINA o HOMEM tende para a realização da SANTÍSSIMA TRINDADE, o HOMEM possui LIBERDADE de se afirmar e determinar, de escolher a via de VONTADE DIVINA, obedecendo-lhe, ou de se afastar dela, dando corpo ao DIABO e caindo na senda do pecado.

O PECADO não é mais do que toda aquela actuação do HOMEM que o afasta da concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE, como vimos.

Porém, o HOMEM, com a sua LIBERDADE, “sabe” intuitivamente que a realização da SANTÍSSIMA TRINDADE passa pela realização ESPIRITUAL (da CENTELHA DIVINA) de TODOS OS SERES HUMANOS, sem excepção de um único, já que, enquanto houver um único que não atinja tal realização, o DIABO ainda terá corpo.

A realização da SANTÍSSIMA TRINDADE, conforme a VONTADE DIVINA passa ou só se concretiza QUANDO TODOS OS SERES HUMANOS SE UNIREM NO ESPÍRITO SANTO (comunhão de realização ESPIRITUAL), isto é, naquela manifestação da VONTADE DIVINA NA CRIAÇÃO (o ESPÍRITO SANTO manifestado na CRIAÇÃO), para concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE, tudo conforme a VONTADE DIVINA.

Mas, ao mesmo tempo que cada SER HUMANO actua no seu “INTERIOR” – procurando conhecê-lo e conhecer-se (para o que deve conhecer também o “INTERIOR” de cada seu semelhante, reconhecendo neste também tal actuação) – actua também sobre o que lhe é “EXTERIOR”, isto é, tudo o que é exterior aos SERES HUMANOS, de modo a trabalhá-lo e a compreendê-lo.

Ora, como vimos, quer este “INTERIOR” quer aquele “EXTERIOR” ao SER HUMANO é sempre, sempre, “CORPO” de DEUS (CRIAÇÃO de DEUS de SI PRÓPRIO e que existe dentro DELE). E, à medida que o SER HUMANO vai conhecendo e dominando tal “CORPO”, vai aproximando-se de DEUS.

Assim, não apenas importante é o “INTERIOR” HUMANO (a meditação, o estudo, eventualmente o ascetismo) como também é o “EXTERIOR” ao HUMANO, isto é, viver e “trabalhar” no MUNDO, pois tudo é “INTERIOR” de DEUS, tudo é o SEU “CORPO”, criado de SI e existente dentro DELE.

Se ORAR a DEUS significa “sintonizarmo-nos” com ELE, sabendo que estamos dentro DELE, “trabalharmos” o nosso “INTERIOR” ou o nosso “EXTERIOR” significa trabalharmos o “CORPO” de DEUS, para nos aproximarmos DESTE, “conhecendo-o” através da SUA CRIAÇÃO.

Resumindo: o CAMINHO INTERIOR do HOMEM (leia-se de todos os SERES HUMANOS) – actuando através do seu “INTERIOR” e “EXTERIOR” – é atingirem a realização ESPIRITUAL e esta só se CONCRETIZARÁ quando TODOS OS SERES HUMANOS se unirem no ESPÍRITO SANTO, tudo o que concretizará a SANTÍSSIMA TRINDADE conforme com a VONTADE DIVINA.

A SANTÍSSIMA TRINDADE é apontada pelas religiões cristãs como sendo o PAI (DEUS), o FILHO (CRISTO) e o ESPÍRITO SANTO (MANIFESTAÇÃO de DEUS na CRIAÇÃO), o que é VERDADE.

Mas CRISTO, o FILHO UNIGÉNITO de DEUS “morreu” na CRUZ para ultrapassar a barreira da morte material e física, como sacrifício para provar a VIDA PLENA à DIREITA do PAI e ensinar à HUMANIDADE o CAMINHO: a “morte” é redentora quando o HOMEM pretende DEUS e a SUA VONTADE e, pela intercepção de CRISTO, o HOMEM (ESPÍRITO) RESSUSCITA junto do PAI, como INDIVIDUALIDADE.

A realização da SANTÍSSIMA TRINDADE depois da “morte” e ressurreição de CRISTO passou a ser a UNIÃO entre o PAI (DEUS), o ESPÍRITO SANTO (ou AMOR DIVINO) e o FILHO (agora, TODO O SER HUMANO, resgatado por CRISTO e pela intercepção DESTE, junto do PAI, à direita do QUAL SE encontra SENTADO).

Enquanto houver um único ESPÍRITO fora do CAMINHO da realização SANTÍSSIMA TRINDADE, a realização DESTA não se concretizará, porque CRISTO deu a VIDA por toda a HUMANIDADE (TODOS OS SERES HUMANOS e não apenas alguns).


Note-se que cada SER HUMANO ao actuar no INTERIOR e no EXTERIOR, mais não faz do que actuar no “Corpo” de DEUS, pois, como vimos, ESTE fez o MUNDO de SI. E, à medida que o HOMEM conhece tal “Corpo”, cada vez vai conhecendo mais o próprio DEUS, no meio do QUAL tudo se encontra, desde a si próprio, HOMEM, como o MUNDO “EXTERIOR”.


Cada SER HUMANO usará da sua LIBERDADE para a concretização da SANTÍSSIMA TRINDADE ou vivência no PECADO, sendo que, a partir daqui, a equacionação da questão é POLÍTICA e ultrapassa os objectivos deste ensaio.




FIM
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